sexta-feira, 26 de julho de 2013

Decy Graffiti

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa

Todos os dias, a caminho da UFG, deparava-me com o graffiti acima. Esse sorriso alegrava minhas manhãs, por mais carrancudo que eu tivesse acordado. Esses olhos fechados pareciam sonhar com um mundo menos frio, menos violento, menos desigual - mais feliz. Uma cena tão impactante, gravada em uma parede em ruínas, numa calçada de terra batida, num cruzamento anônimo de Goiânia.

Procurei pelo autor do graffiti nas redondezas, mas sem sucesso. Numa busca por "Decy" no Facebook, entretanto, tive a grata surpresa de encontrar muitas outras obras desse profícuo artista goiano. Sozinho ou em parceria com André Morbeck, Decy tem contribuído para a revitalização de várias áreas ou elementos urbanos esquecidos ou que passam desapercebidos da maioria da população goianiense. Quando você menos espera, num passeio pela cidade, uma de suas obras certamente irá lhe saltar aos olhos.

Arte: Decy Foto: www.facebook.com/decy.graffiti

Sempre impactantes, trazendo o realismo das grandes cidades, o negro, o índio, o imaginário, o fantástico, as obras de Decy dão vida às ruínas, becos, praças e quadros telefônicos da cidade. Quando o contactamos pelo Facebook, Decy pediu que entrássemos em contato com ele por telefone. Combinamos um encontro no "bacião" - assim foi apelidada uma das misteriosas (e esquecidas) praças do Setor Sul. Uma quadra esportiva e uma extensa área verde abandonadas.

No caminho até o "bacião", a ação de pichadores é marcante. Raros são os muros que não estão pichados. Vandalismo ou descaso das autoridades? Busca por identidade? Falta de oportunidades? São perguntas difíceis de responder. Entretanto, o contraste entre as pichações do caminho e as obras de arte do "bacião" é avassalador. Decy e Morbeck fizeram do "bacião" uma galeria de arte a céu aberto. Boa parte das fotos que lá tiramos estão expostas nos posts que se seguem.

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa
Enquanto esperávamos por Decy, contemplávamos algumas de suas obras em parceria com Morbeck. Uma coruja que pairava pela quadra de esportes era nossa única companheira. Mais tarde, um cachorro sem dono veio fazer-nos companhia. Encontramos um ou outro morador da região, sempre apressados, sempre de passagem. Trabalhadores de uma construção próxima também por ali passaram, mas sem muitas delongas. Talvez as obras de Decy e Morbeck já sejam parte de seu cotidiano, tanto que passam aparentemente despercebidas. Talvez.

Ao encontramos com Decy, ele comentou que tinha um trabalho a fazer, não tão distante dali. Ele trabalha com letreiros e outros serviços particulares - este é seu ganha-pão. Adentrou o mundo do graffiti para não deixar só o filho, que então completava 13 anos. Auto-didata, "eterno aprendiz", Decy mostra com orgulho suas gravuras. Ele disse que cerca de 20% dos muros do "bacião" já estão pintados. Os demais 80% serão transformados com o tempo. Um trabalho voluntário, ou melhor, um hobby, às vezes patrocinado por alguns moradores. Na nossa opinião, um belo trabalho, não só artístico, mas de revitalização de uma praça esquecida pelas autoridades.

Arte: Decy Foto: www.facebook.com/decy.graffiti
Os textos a seguir foram inspirados em obras que vimos no "bacião" ou na página do Decy no Facebook. Elas fazem uma relação entre a obra de Decy/Morbeck e a matéria que estudamos na disciplina de Cultura Brasileira I. Convidamos todos à reflexão, seja pela leitura dos textos, seja apreciando as imagens. Para mais detalhes sobre a arte do Decy ou sobre como chegar até o "bacião", entre em contato com algum dos integrantes do nosso grupo. Esperamos que gostem do trabalho que desenvolvemos. Ótimas férias a todos!

Arte: Decy Foto: www.facebook.com/decy.graffiti

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Descoberta

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa
A nau. A selva.
O princípio de tudo.
O desejo mesquinho.
O escravo africano,
Índio americano,
Espanhol, português:
Uma história sangrenta,
Não se diz, não se fez.
São as águas do mar,
Cancelando o verão.
Faz apelo à justiça
Este meu coração.

A paz. A guerra.
Já acabou-se tudo.
E o desejo mesquinho
Continua a seguir.
Falsidade é a nossa
Perfeita tradição.
Que promessa de vida
Pode ter a canção?
São as águas do mar,
Enterrando a paixão,
Extinguindo a beleza,
Essa grande ilusão.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Texto: Ailton Sousa

Grafite e Linguagem

O grafite, atualmente, é visto enquanto linguagem - elemento comunicacional que permite a expressão dos elementos culturais que envolvem a maneira com que o artista se relaciona com a sociedade. Bakhtin (1986), no livro Filosofia da Linguagem e Marxismo, contribui com o entendimento da linguagem ao afirmar que não falamos palavras, e sim verdades, mentiras, coisas boas ou más, etc. Entende-se, assim, que a linguagem é carregada de ideologias pertencentes ao grupo social em que o enunciador se insere ou pensa se inserir.

Historicamente, os grupos sociais buscaram maneiras para se comunicar através de um meio que assim o permitisse. Conquanto, sabe-se que este processo de busca não aconteceu de forma harmoniosa. Diversos grupos socais tiveram suas linguagens silenciadas e marginalizadas para favorecer projetos de organização política, econômica, cultural etc. O grafite é um dos movimentos que buscam romper com esta padronização do fazer artístico. Tem origem nos Estados Unidos, por volta da década de 1970, com os jovens do Bronx. Sua especificidade é a utilização das ruas e espaços inicialmente não pensados para este fim para sua manifestação.

Como todo grupo artístico, o grafite apresenta-se com uma grande variedade de estilos e temáticas. Entretanto, pode-se perceber que, em sua maioria, os trabalhos ainda se resguardam no comprometimento político-poético de sua origem.

Abaixo segue uma seleção de fotos dos trabalhos de Decy – goiano que começou a grafitar para acompanhar seu filho de treze anos nas ruas, para resguardá-lo dos possíveis perigos de se exercer esta arte ainda não totalmente aceita pela sociedade – relacionadas com poesias de Charles Baudelaire. O intuito da associação não é promover uma limitação de interpretação, mas o diálogo entre duas formas de linguagem.

Arte: Decy Foto: Decy

“Para além do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, já com rugas, pobre, sempre debruçada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, sua roupa, seu gesto, com quase nada refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda, e por vezes a conto a mim mesmo chorando [...] Talvez me digam: “Tem certeza que esta lenda é verdadeira?” Que importa o que seja a realidade situada fora de mim, se me ajudou a viver, a sentir que sou, e o que sou?” CHARLES BAUDELAIRE p.183

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

“Eu canto os cães calamitosos,quer os que vagam, solitários, nos córregos sinuosos das cidades imensas, quer os que disseram ao homem abandonado, piscando os olhos maliciosos:   “Leve-me com você, e com nossas duas misérias talvez possamos criar alguma espécie de felicidade.” CHARLES BAUDELAIRE p. 237

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa

“Ando louco para pintar aquela que tão raro apareceu e tão depressa fugiu, como algo belo e saudoso atrás do viajante transportado noite adentro. Há tanto tempo já, que ela desapareceu! Ela é bela, e mais que bela: é surpreendente. O negro nela excede, e tudo que ela inspira é noturno e profundo.” CHARLES BAUDELAIRE p. 185

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. São Paulo: Hedra, 2011

Texto: Érica Reis

Presente de Aniversário

Arte: Decy Foto: Jaiane Neves

Aniversário de quatro anos de Ana, uma negra linda de olhos grandes e curiosos e cabelos volumosos. Após uma pequena comemoração, com poucos parentes e amigos, Ana abre os presentes, vestido, saia, sapatos e uma caixa com um embrulho bonito.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Ao retirá-lo, Ana encontra uma boneca, uma boneca com características de bebê, mas uma boneca com características de mulher, branca, alta, magra, com cabelos longos, lisos e louros e olhos azuis: era a Barbie.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

A boneca que carrega décadas de padrões de beleza e a frustração que esses padrões causaram e causam a milhões de mulheres no mundo. As mulheres da Espanha são morenas, as da China são baixinhas, as da Angola são negras, ou seja, em poucos países as mulheres tem o estereótipo de Barbie. Mesmo assim, Ana tem em sua frente modelo que terá que seguir. Não só por que a boneca é bonita, mas, também por que os jornais, as revistas e a televisão mostra, que este é o perfeito, o que deve ser seguido.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Ana teria maiores chances de se olhar no espelho e se achar bonita, gostar de seu cabelo “ruim” e da cor de seus olhos, se os padrões de beleza não fossem tão limitados. Isso tem que mudar.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Texto: Jaiane Neves

Grafite vs. Pichação

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

O graffiti ou grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos. O grafite surgiu em Nova York no final da década de 1960, onde jovens de minorias excluídas da cidade expressavam sua arte. Já no Brasil surgiu no final da década de 1970, em São Paulo. Mas há vestígios desta arte desde o Império Romano.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

O grafite está diretamente ligado a outros movimentos, como o hip hop, que procura expressar a realidade das ruas. Há um conflito entre o grafite e a pichação: o grafite é desempenhado artisticamente, já a pichação não passa de poluição visual e vandalismo.

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Os grafiteiros deixam a sua marca em banheiros públicos, casas abandonadas, edifícios, metrôs, monumentos públicos, ônibus, etc. Para evitar problemas, foram criados projetos visando profissionalizar essa arte e dar aos grafiteiros a oportunidade de exibirem seu trabalho. O grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo.

Arte: Morbeck Foto: Ailton Sousa

Texto: Natália Esteves

Olhares

Arte: Decy Foto: www.facebook.com/decy.graffiti

Estou parada no ponto às 18 horas, esperando o ônibus passar. Quanta demora, vinte minutos ali esperando, as pernas já doem da correria do dia-a-dia, e em meus pensamentos, imagino ir sentada naquele ônibus, mas ao ver a quantidade de pessoas ali junto comigo, desisto da ideia, e apenas torço para conseguir entrar no primeiro ônibus que passar. E no meio de tanta gente, percebo um monte de olhares diferentes, uns mais tristes e cansados, outros mais animados na medida em que a realidade permite. E daí me surge o seguinte pensamento: Como será que esses olhares veem a realidade?

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa

Uma pergunta cuja resposta me surgiu facilmente. Ao ver uma movimentação estranha no meio da rua. Um monte de gente ia se aglomerando ali. Curiosa e astuta que sou, resolvi averiguar os fatos. Uma oportunidade de investigação não passaria em branco para uma estudante de jornalismo. À medida que me aproximava daquela multidão um frio me surgia na barriga. E não era para menos.

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa

Uma quantidade enorme de pessoas com celulares na mão filmando o que acontecia. Paparazzis, fotógrafos, repórteres e pessoas curiosas. Todos filmando e colocando na internet aquele fato incomum. Um fato capaz de parar tanta gente, de atrair tantos olhares, de fazer as pessoas pararem o seu mundo, o seu serviço para verificar. Seria isso, apenas curiosidade humana? Não sei, não soube responder. Ou não sabia até ver o que tanto olhares observavam atentamente.

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa

Numa noite de inverno, fria que só. Era um corpo. Sim, um corpo, que deitado ali estava. Uma mulher nova, muitos anos ela ainda tinha para viver. Mas infelizmente, aquele era seu fim. Um atropelamento lhe tirou a vida. E lhe deu uma atenção que num dia qualquer ela nunca teria. Uma multidão de olhares para apenas verificarem seu triste fim.  Ninguém podia fazer nada. E só lhes restou observarem aquele trágico fim de uma vida.

Arte: Decy Foto: Ailton Sousa
Texto: Nathália Corrêa

"Quem sabe faz a hora, não espera acontecer"

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Quinta-feira, dia 20 de Junho de 2013. Apanhei minha mochila surrada que me acompanha desde o Ensino Médio, água, vinagre, câmera, tinta, spray, o cartaz que havíamos feito na semana anterior, a bandeira do meu país. Pintei a cara e fui pra rua. O ônibus demorou cinquenta minutos pra chegar. “Malditos ônibus”. Subi as escadas, cumprimentei o motorista. “Pobre coitado”. Lá se foi meu último sitpass. “Essa realidade vai mudar”. Espremido entre um feirante e sua carga, “lá vou eu pra Praça Cívica”.

Olhava os rostos dos passageiros. Alguns dormiam, o sol castigava a tarde do goianiense. Pensei em ler o texto da aula seguinte de Cultura Brasileira, “Jogo de Espelhos”. Sem chance: impossível ler em pé, um olho na mochila (com minha câmera) e outro no texto, um pé de alface no sovaco esquerdo, uma criança chorando “Mãe, quero fazer xixi”, os solavancos do busão que ameaçavam lançar ao chão uma senhorinha que não tivera a sorte de achar um lugar pra se sentar. “Essa realidade tem que mudar”.

Avenida Goiás. “Estamos chegando”. Artéria pulsante, fluxo constante. O motorista recebe com uma buzinada o aceno de um colega que desce no sentido oposto. Sinal de luz, dois farois curtos. “O protesto está começando”. Passamos pela Praça do Trabalhador, meu coração acelera. Lembro das histórias que meus avós contavam, sobre a maria-fumaça, sobre a estação de trem, o teatro de arena. Hoje tudo é deserto, a locomotiva jaz a céu aberto, o crack toma conta das noites, a violência bate à porta da Câmara dos Vereadores. “Corruptos!” - “Essa realidade precisa mudar”.

Primeiro ponto da Goiás, finalmente consigo me sentar! O ônibus desacelera, uma multidão entra e sai. Testemunho o furto de um boné, ali em frente à Catedral da Fé. “Jogo de Espelhos” - rio comigo mesmo e lembro da Facul, dos colegas de Jornal. Abro discretamente a mochila, confiro a câmera, as tintas, a bandeira. “Tá tudo aqui”. Um gole d’água pra matar a sede. “Sede de justiça!” À frente já dá pra ver o movimento, uma aglomeração maior de carros, um buzinaço, uma fumaça cinzenta. “É o protesto!” Salto do ônibus e decido fazer o resto do caminho à pé, com alguns companheiros de luta que estão do lado direito da avenida, ali, pouco depois da Paranaíba. “Vamos mudar essa realidade!”

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Ouço o burburinho que vem da Praça do Bandeirante, lembro que meus pais não sabem que estou ali. “É perigoso, filho...” Mesmo assim, eu tinha que vir. “O gigante acordou”. “Desculpe os transtornos, estamos mudando o país”. O Bandeirante, lá de cima, olha sisudo o movimento a seus pés. “Onde está minha Praça?”, pensa ele, bateia e bacamarte em mãos. Acabou-se o ouro, acabaram-se os índios. “Para onde vou?”, indaga-se diariamente, contemplando o corredor de ônibus que levou sua Praça. Símbolo de uma cultura forjada, de fato parece não haver mais espaço para desbravadores por aqui. “Diabo Velho, desça daí! Venha mudar essa realidade!”

Pneus em chamas, trânsito interrompido, as mídias, em peso, cobrem a manifestação. Encontro alguns colegas de Jornal, avançamos juntos, passo firme, rumo à Praça Cívica. A polícia acompanha o movimento, alguns a cavalo, outros no choque. Lembro dos protestos das semanas anteriores, dos colegas que se machucaram, dos que foram levados pela polícia, das armas que foram apontadas em nossa direção. “Sem violência!” Tiro a bandeira verde-amarela da mochila, empresto o spray a um camarada que passou à minha esquerda. “Sem partido!” As vozes das ruas começam a ganhar força, conforme nos aproximamos do Palácio das Esmeraldas. “Vem pra rua, pra rua vem!”

Faço da bandeira uma capa. “Sou um herói, um herói nacional!” Meu cartaz agora soma-se a milhares de outros, o protesto é o mais bonito dos últimos dias. “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...” Praça Cívica. “Que demonstração de civismo!” Olho pro Monumento às Três Raças. “Índio, negro, branco: quem sou eu?” Olho ao redor, a noite cai, quero viver cada minuto intensamente. Faço saltar a câmera, subo num muro próximo, tiro uma foto da galera. “Sou jornalista”, penso com orgulho. “Estou mudando a História”. Choro, emocionado, por dentro - não quero que me vejam chorar.

O Centro Administrativo, sempre tão imponente, parece pequeno diante da multidão. A vidraça me faz lembrar novamente do texto de Cultura. “Não importa, estou fazendo história!” Continuamos a marcha, já nou sou eu quem marcha, é o povo quem marcha. A liberdade guia o povo. O povo guia o futuro da nação. “Que país é esse?” Uma legião toma conta da maior urbe goiana. Por alguns momentos, o futebol e a novela ficam em segundo plano. Por alguns momentos. Uma noite, talvez menos. “Mas já é alguma coisa...” 

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Um princípio de confusão, correria, fumaça, gás pimenta, empurra-empurra. “Corre, corre!” Perco de vista os colegas, fica difícil respirar, levo algumas bordoadas da polícia que até então nos entregava flores. “Ei, polícia, cadê seu reajuste?” Tomo o rumo da Praça Universitária, a maioria dos estudantes parece seguir por ali. “Caminhando e cantando e seguindo a canção, Somos todos iguais, braços dados ou não”. Acho que é hora de voltar pra casa, tenho um caminho longo até lá, meus pais me esperam, mal sabem onde e como passei as últimas horas.

Chego em casa. Minha mãe me aguardava ansiosa. “Meu filho, você foi se meter naquele protesto, né?” Bom, acho que não deu pra esconder... Tomo um banho frio, desacelero o coração para a noite de sono que se aproxima. Sento à mesa pra comer alguma coisa, ligo a TV pra ver como estão os protestos em todo o país. No Rio de Janeiro, a Avenida Rio Branco foi tomada pelos manifestantes. Em São Paulo, a Paulista. Em Brasília, ocuparam o teto do Congresso Nacional! “Yes!” - deixo escapar um estranho grito de satisfação e esperança. “Fizemos História!”

“Enquanto uma maioria pacífica conduziu as manifestações, uma minoria de baderneiros depredou a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro” - ouvi o Willian Waack, relatando a manifestação carioca. “Em São Paulo, uma maioria [...], uma minoria [...].” “Já em Brasília, a maioria [...], enquanto uma minoria [...]” Maioria e minoria. Claros e escuros. Pacíficos e baderneiros, arruaceiros, vândalos. “Quem sou eu?” Casa, rua; rua, casa: “Quem sou eu?” Estudante, trabalhador, bandeirante, cidadão, polícia: “Quem sou eu? Que realidade eu quero mudar? Que História eu quero fazer? Que Avenida eu quero seguir? Em que Praça eu quero chegar?”

Sigo para o quarto, cama feita, apago a luz. Contrariado, deito a cabeça sobre o travesseiro e, pelo fone de ouvido, ouço as palavras de Vandré, ainda envolto em meus questionamentos: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

Arte: Decy/Morbeck Foto: Ailton Sousa

Texto: Ailton Sousa

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Língua Portuguesa I - Aula 12

O gênero RESENHA

A resenha possui duas funções principais: 1) descrever o objeto resenhado, enumerando suas propriedades principais, as circunstâncias que o envolvem, fazendo um resumo seletivo/não-exaustivo do conteúdo desse objeto, filtrando aquilo que é essencial/funcional para as intenções do autor da resenha; 2) fornecer uma avaliação sobre o objeto resenhado, oferecendo ao leitor da resenha informações suficientes para que ele possa decidir quanto à consulta ou não do original.

Os objetos de uma resenha são variados: filmes, shows, exposições de arte, livros, concertos, textos, obras culturais, um acontecimento qualquer da realidade (exemplo: partida de futebol), etc.

As resenhas podem ser publicadas em: 1) revistas e jornais de grande circulação; 2) periódicos (no caso de resenhas acadêmicas).

As resenhas acadêmicas possuem um público restrito (membros da academia/universidade) e tema bem definido (livros/artigos publicados recentemente). São normalmente constituídas de quatro blocos textuais: 1) assunto do livro e características gerais; 2) visão geral da obra (estrutura e detalhamento das partes); 3) observações do autor da resenha sobre o valor das partes (este terceiro bloco pode vir mesclado com o segundo); 4) veredicto do autor da resenha sobre a obra como um todo (recomenda, recomenda com restrições ou desaconselha a leitura da obra).

Em uma resenha, não se percebe nem a presença do emissor, nem do receptor. A linguagem é em terceira pessoa, o que confere certa neutralidade à resenha - na seleção e na organização já ocorre a intenção de quem escreve. A ABNT denomina a resenha como resumo crítico. Misturam-se, em uma resenha, partes descritivas, narrativas e dissertativas. Em geral, sobressaem-se a descrição e a dissertação, por isso as resenhas são classificadas em descritivas ou dissertativas.

Nas resenhas descritivas, predomina a descrição das propriedades da obra (no caso de um livro: título, autor, idioma original, tradutor, editora, coleção a que pertence, número de páginas, preço, lugar e data de publicação, volume e número de volumes da coleção, etc.). Relata as credenciais do autor, resume a obra (ideias ou trama - traços narrativos, não-exaustivos), apresenta metodologia empregada, expõe um quadro de referências em que o autor se apoiou, diz a quem se destina (público).

Nas resenhas dissertativas, além da descrição das propriedades e do breve resumo do que é essencial ao conteúdo do objeto resenhado, há o julgamento do autor da resenha sobre as ideias e o valor da obra. O autor da resenha apresenta suas conclusões, apresenta uma avaliação da obra, avalia as informações nela contidas, a forma como foram expostas, justifica a avaliação realizada, levanta argumentos sobre a qualidade do texto ou ausência dela.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Filosofia - Aula #

Início da terceira parte do curso: o filme como meio de reflexão filosófica - associações de gêneros cinematográficos e filosofia. Tema de hoje: Hegel e o Western.

Primeira parte da aula: breve apresentação de um artigo sobre o tema, disponível em www.inquietude.org. Segunda parte da aula: filme "Matar ou Morrer" (título original: "High Noon"; ano: 1952).

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sociologia - Aula #

Seminários:
  • S05: VIANA, N. História em quadrinhos e capital comunicacional
  • S06: MARQUES, E. Quadrinhos e Luta cultural

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Língua Portuguesa I - Aula 11

O gênero CONTO

Comecemos por diferenciar o conto popular do conto literário. O primeiro consiste na forma popular/folclórica de criação coletiva da linguagem. O segundo consiste na forma artística, produto exclusivo de um estilo peculiar/individual.

Os contos populares advêm de heranças de crenças e mitos primitivos que se adaptaram a novos contextos culturais. Provêm de camadas não letradas da população, da literatura oral tradicional. São obstáculos ao conto popular as transformações do modo de vida das sociedades industrializadas, onde predomina a televisão, a qual não só "conta", como também "mostra", moldando a imaginação do leitor. Atualmente, o conto popular tende a restringir-se, portanto, aos meios rurais ou localidades que estejam distantes da indústria, da eletricidade, da televisão, onde o sentar-se ao redor da fogueira para contar histórias (casos, contos) insiste em sobreviver.

Os contos literários têm, em suas origens, esses casos populares, com função lúdica e moralizante, construídos e reconstruídos por contadores de histórias das comunidades, os quais tentavam seduzir seu auditório ao compartilhar acontecimentos, sentimentos e ideias. A própria limitação/concisão do conto literário advém dos contos/casos populares, da tradição oral - ao contrário do romance, que tem suas raízes na cultura escrita e na leitura.

Características: o conto é breve/conciso (qualitativamente), curto (quantitativamente possui um número reduzido de linhas), em contraste com o romance, que é longo; tem um número reduzido de personagens, geralmente anônimas e prototípicas (rei, princesa, padre, dragão); sua ação é concentrada (poucas ou apenas uma ação); sua localização temporal é indefinida (o que lhe dá caráter de permanência temporal). O tipo textual é o narrativo, em prosa; o esquema temporal e espacial é restrito. Possui uma unidade de tom, efeito, tensão e intenção: não há intrigas secundárias, como no romance, o que lhe confere uma imensa força derivada da totalidade dessa unidade.

Temas: diversos - maravilhosos, da carochinha, de animais, de adivinhação, religiosos, de fada, etc. O conto busca o insólito, a surpresa, o inédito do "já visto". Pode ser extraído de um fragmento da realidade, um episódio fugaz, dados extraordinários do real, que muitas vezes passam despercebido. Numa analogia dialética, a vida seria a tese; a expressão escrita da vida, a antítese; o conto, a síntese: simultaneamente uma síntese viva e uma vida sintetizada. A fugacidade numa permanência. Metaforicamente, o conto estaria para a fotografia, assim como o romance está para o filme.

Estudos Teóricos: na teoria sobre o gênero conto de Edgar Alan Poe, há três princípios básicos:
  1. extensão; 
  2. efeito único; 
  3. contenção
O conto deve ser curto, evitando a dispersão do leitor, permitindo a leitura em uma só "assentada" (não há interrupções na leitura como ocorre com o romance). Há, no conto, uma unidade de tom, de tensão, de intensidade, como que sequestrando o leitor, construindo uma ponte entre o leitor e a intenção do autor, mantendo-se a reação/excitação de quem lê durante um tempo suficiente: nem longo demais, nem breve demais, evitando que o efeito se dilua. Assim, o autor faz uma contenção de tudo aquilo que não convirja essencialmente para o drama, eliminando situações ou ideias intermédias que o romance permite e mesmo exige. No conto vai ocorrer algo e esse algo será intenso. O ímpeto natural da arte para o belo fica legado à poesia - a concisão do conto é um de seus limites potenciais. O conto, em resumo, é uma máquina literária de criar interesse.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Sociologia - Aula #

Apresentação dos seminários:

  • A música na sociedade moderna
  • Cinema e indústria cultural

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Língua Portuguesa I - Aula 10

Estudo do gênero literário CRÔNICA.

Origens da palavra "crônica": A palavra crônica teria suas origens na palavra grega chronos. O mito em torno do deus grego Chronos (deus do tempo, equivalente ao deus romano Saturno) consiste no fato de que ele, com medo de ser destronado, engolia seus próprios filhos. Um deles, Zeus, com a ajuda da mãe, teria escapado e, mais tarde, feito o pai vomitar todos os seus irmãos, arrastando-o para o Tártaro e prendendo-o no mundo subterrâneo, juntamente com os outros titãs, tornando-se, assim, divindade suprema do Olimpo, deus do céu. O conceito por trás do mito consiste no fato de Chronos, assim como a crônica, querer barrar a passagem do tempo (cronológico). Ao engolir os filhos, Chronos eternizava-se no poder, cristalizando o tempo. Da mesma forma, a crônica tenta captar uma fração do tempo cronológico, eternizando-a.

A crônica segundo os cronistas: Para Machado de Assis, a crônica seria "a fusão admirável do útil e do fútil". Para Carlos Drummond de Andrade, a aparente frivolidade/insignificância da crônica contrasta com a monstruosidade amarga dos desastres. Sem a obrigação da apuração, correção, avaliação crítica de fenômenos sociais, o cronista (ao contrário do jornalista) joga um "jogo que esgota-se em si, para recomeçar no dia seguinte, sem obrigação de sequência". A crônica, em sua origem legada a um canto ou às margens das páginas dos jornais, seria como aqueles objetos pequeninos, aparentemente inúteis, guardados num canto da casa, "os nadas de uma existência atulhada de objetos imprescindíveis e, ao cabo, indiferentes, quando não fatigantes". Para Vinícius de Moraes, as crônicas são colhidas das notícias ou da concentração do cronista, havendo: os que a fazem de maneira simples, direta; os que a fazem de modo lento, demorado; os que a fazem no ou-vai-ou-racha; os eufóricos, os tristes, os modestos, os vaidosos, etc. Uns são lidos por prazer, outros por vício. Mas este gênero "menor" ou "marginalizado", segundo ele, caíram no gosto do público, que o saboreia como quem toma um "cafezinho quente seguido de um bom cigarro".

A crônica segundo os teóricos/críticos do gênero: Inicialmente, a crônica destinava-se a contar relatos verídicos, históricos, cronológicos, geralmente ligados ao cotidiano/história da nobreza (exemplo: primeiro e segundo livro das Crônicas presentes no Antigo Testamento da Bíblia cristã). É a partir do século XIX que os cronistas transformam a crônica em um motivo de reflexão sobre a vida social, os costumes, o cotidiano. Usualmente assinada, a crônica atual tem motivos diversos, recebendo, conforme a esfera social que retrata, um qualificativo: literária, policial, esportiva, política, jornalística, etc.

Segundo Sérgio Roberto Costa: texto curto, simples, acessível a todos, de interlocução direta com o leitor, com marcas de oralidade. Sua função: agradar aos leitores. Tema preferido: o acontecimento insignificante, ao qual ninguém tenha prestado atenção, o fato miúdo, a cena corriqueira. "É a pausa de subjetividade, ao lado da objetividade do restante do jornal. Considerada um gênero menor da literatura, pode, entretanto, conter seus momentos mais altos, a filosofia do cotidiano, a agudeza dos bons ensaios". Segundo Antônio Cândido, trata-se da "sensibilidade de todo dia", que "na sua despretensão, humaniza". Para Afrânio Coutinho, é o "gênero literário mais ligado ao jornal", com uma natureza, ao mesmo tempo, literária e ensaística. Ao passo que o jornalista veicula a informação ou a opinião por meio da notícia, o cronista usa-a como pretexto, veiculando uma "reação individual, pessoal, íntima, diante do espetáculo da vida". Uma busca por transcendência e arte, sobreposta a objetividade jornalística.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Cultura Brasileira I - Aula #

Na primeira metade da aula de hoje, a professora Luciene Dias coordenou um debate sobre o texto "As Invenções do Cotidiano", de Everardo Rocha. O texto é parte do livro "Jogo de Espelhos: ensaios de cultura brasileira".

Everardo Rocha propõe-se a tecer uma análise a partir do detalhe, isto é, do particular para o geral, indo na contra-mão da maioria das análises científicas, as quais procuram regras gerais para explicar especificidades, ou seja, do geral para o particular.

O autor critica a visão de Gilberto Freyre sobre antagonismos muito próprios da cultura e da própria formação histórica brasileira: europeu e africano; europeu e indígena; africano e indígena; economia agrária e economia pastoril; agricultura e mineração; católico e herege; jesuíta e fazendeiro; bandeirante e senhor de engenho; paulista e emboaba; pernambucano e mascate; proprietário e pária; bacharel e analfabeto. Segundo Freyre, o antagonismo predominante seria o do senhor vs. o escravo.

Segundo Rocha, por um lado, Freyre lista dilemas e dualidades próprias da elaboração da cultura brasileira. Entretanto, por outro lado, Freyre busca um equilíbrio entre as partes antagônicas, acreditando que a compatibilização do antagonismo pelo equilíbrio levaria a um enriquecimento da cultura, em uma espécie de mistura positiva e saudável.

Para Rocha, a realidade da cultura brasileira é mais complexa do que a apresentada por Gilberto Freyre. Lembrando a visão de Rita Segato, o autor afirma que não buscamos essa síntese proposta por Freyre, nem traçamos uma demarcação nítida dos pólos antagônicos: "operamos com os dois lados opostos de forma simultânea". Ou ainda, às vezes, criamos "um terceiro termo que não é síntese, mas negação, renúncia ou perplexidade diante dos outros dois". Trata-se de uma convivência (pacífica?) entre os contrários.

Everardo utiliza-se do termo ambiguidade ou eixo da ambiguidade para se referir à presença de éticas dúplices na cultura brasileira. Tal duplicidade pode ser observada, por exemplo, na ambiguidade apontada pelo autor entre a ética burocrática e a ética pessoal. O código burocrático é impessoal e universalizante, igualitário. Entretanto, no âmbito pessoal, a ética burocrática e a lei podem dar lugar ao jeitinho, à malandragem, à exceção à regra. "Aos inimigos, a lei; aos amigos, tudo!"

O autor parte, assim, para a análise da cultura brasileira sob a ótica (ou "lente", para lembrar o estudo que fizemos do texto "Cultura - Um conceito antropológico", de Roque de Barros Laraia) dessa ambiguidade por ele proposta. Ele analisa dois "detalhes" ou fatos isolados:
  1. uma descoberta típica da infância brasileira, "Quem descobriu o Brasil?";
  2. o tetracampeonato de futebol conquistado em 1994 nos Estados Unidos.


No primeiro caso, Everardo Rocha assinala que, quando a criança brasileira aprende na escola que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, na realidade, ela apreende três descobertas:
  • a descoberta do Brasil, efetivamente realizada por Pedro Álvares Cabral (um saber operacional e útil para boa parte da vida escolar básica);
  • a descoberta de que esse saber é amplamente compartilhado (todos os brasileiros compartilham tal "ensino");
  • a descoberta de que o Brasil descobre-se (ao contrário dos Estados Unidos ou outros países americanos, onde as crianças são ensinadas sobre a fundação, construção ou conquista de seus países).

"Aprender a descoberta do Brasil é, em certo sentido, aprender que estamos presos na compulsão das descobertas." É o mito das descobertas e invenções, do descobridor e do inventor, do "salvador da pátria". Basta olhar para a enormidade de planos econômicos que tentaram re-inventar ou "salvar" a República brasileira pós-ditadura militar, sufocada pela inflação. Basta olhar para as várias constituições brasileiras, numa tentativa de descoberta, invenção ou salvação política do país. Historicamente, há muitos exemplos: 
  • Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira;
  • D. Pedro I, herói da Independência;
  • Princesa Isabel, heroína da abolição da escravatura;
  • Marechal Deodoro da Fonseca, herói da República;
  • Getúlio Vargas, o pai dos pobres;
  • Pelé, o rei do futebol;
  • etc.

Citando DaMatta, "na lógica das 'descobertas' [...] as instituições sociais e os valores políticos ficam a salvo da discussão em termos das suas responsabilidades nos processos históricos e sociais. [...] Nas fundações, [...] enfatizam-se instaurações, rupturas, descontinuidades e conflitos."


No segundo caso em análise (tetracampeonato brasileiro), Rocha expõe a insatisfação geral dos brasileiros com relação ao estilo de jogo que a seleção brasileira campeã do mundo apresentou em 1994. Privilegiava-se a técnica e o planejamento, em detrimento do talento, da malandragem e da magia do futebol arte tipicamente brasileiros. Ganhamos com um futebol feio, retranqueiro, excessivamente "europeu".

O autor inicia a análise comentando sobre a facilidade com que transitamos entre o futebol e a realidade social, isto é, a facilidade com que traçamos paralelos entre o futebol (particularmente o selecionado nacional, a seleção "canarinho") e a sociedade brasileira. Dizemos "o Brasil está no ataque", enquanto, na verdade, 11 futebolistas selecionados disputam uma partida de futebol em busca de uma vitória ou premiação, e não uma "batalha" pela "conquista" de algo socialmente relevante.

Essa facilidade que temos de metaforizar a realidade social por meio do futebol encontra um problema quando encara a seleção tetracampeã de Parreira. Tivemos um destaque individual (Romário), mas, segundo Rocha, nenhum comparável ao Pelé de 1970 ou ao Garrincha de 1962, contrariando a lógica cultural brasileira de eleger um mártir ou um herói, um descobridor, dotado de talento inigualável ou mesmo de poderes especiais. Essa lógica talvez volte a fazer sentido no sucesso de 2002, quando o talento de Ronaldo, mesmo face às múltiplas dificuldades pós-cirúrgicas e à sombra do fiasco de 1998 contra a França, superou o melhor goleiro do torneio e "trouxe a vitória para o Brasil".

Dessa forma, "do gênio improvisador de 58, 62 e 70 aos organizados burgueses de 94, existe uma imagem importante nesta seleção, nos levando da desordem para a ordem, do improviso para a organização, do jeitinho à burocracia, da malandragem às leis universais, da casa para a rua. [...] Do mágico acaso dos descobrimentos aos processos negociados das fundações, [...] dos descobridores talentosos aos fundadores humanizados. [...] De alguma forma, gostamos de imaginar que fazemos as coisas magicamente."


Rocha extrapola a ideia para o âmbito da Fórmula 1, lembrando os tempos de Ayrton Senna, quando valorizava-se o talento do campeão brasileiro em detrimento da racionalidade técnica de todos os profissionais envolvidos na construção e ajuste do carro, da máquina. Na realidade, Senna, sem dúvida, possuía enorme talento, principalmente debaixo de chuva, quando "fazia milagres". Entretanto, foi a combinação de seu talento com a racionalidade técnica da McLaren do início dos anos 90 que lhe valeram seus três títulos mundiais. 

Everardo lembra ainda de Emerson Fittipaldi, bicampeão de Fórmula 1. Talento comprovado nas pistas, fracasso técnico enquanto organizador da Copersucar, equipe de Fórmula 1 brasileira. A equipe foi motivo de chacota, ridicularizada pelos brasileiros. "Reagimos mal à proposta de também ser tecnologia."

Com a imagem da conquista do tetracampeonato brasileiro, Rocha afirma que "o Brasil pode se organizar... e vencer [...] talvez não precisemos de heróis, políticos populistas, salvadores da pátria, figurões, líderes carismáticos, medalhões, ditadores ou caudilhos nos ensinando os caminhos do paraíso. Talvez, por força daquele jogo amarrado e feio, se possa encenar um drama diferente e afinal não seja preciso nenhum Dom Sebastião resgatando a alma e cobrando a conta."

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Na segunda metade da aula, a professora Luciene Dias trabalhou a leitura e interpretação do texto "Ritos corporais entre os Nacirema". O texto fala sobre os dilemas do trabalho do antropólogo ou de qualquer um que se proponha a analisar uma sociedade, suas origens, seus ritos. Há uma grande sacada no texto - a qual não revelarei aqui! Seria como contar o final de um filme que você ainda não viu e quer muito ver... Recomendo a leitura!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Filosofia - Aula #

A professora Carla Milani fez uma exposição sobre subjetividade, percepção, modernidade e técnica.

Subjetividade seria a capacidade que cada indivíduo tem de pensar por si mesmo, de refletir. "Na teoria do conhecimento, a subjetividade é o conjunto de ideias, significados e emoções que, por serem baseados no ponto de vista do sujeito, são influenciados por seus interesses e desejos particulares. Tem como oposto a objetividade, que se baseia em um ponto de vista intersubjetivo, isto é, que pode ser verificável por diferentes sujeitos." Essa capacidade de reflexão, dependendo do contexto, pode levar o indivíduo a um quadro de ação-reação ou mesmo de automação, como no caso do filme "Tempos Modernos", de Chaplin.

Percepção seria a função cerebral responsável por atribuir sentido às informações/estímulos sensoriais, isto é, advindos dos sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato). Fala-se ainda em percepção temporal (passagem do tempo), espacial (tamanho e distância entre objetos) e propriocepção (capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua orientação, força exercida pelos músculos, posição de cada parte do corpo em relação às demais). Nossa capacidade de percepção estaria sujeita, por exemplo, à influência temporal (idade do indivíduo). Entretanto, o foco da aula foi sobre a influência da técnica sobre a percepção dos indivíduos e, consequentemente, sobre o exercício de sua subjetividade.

Técnica, considerando o contexto da aula, seria um conceito muito próximo ou mesmo coincidente com o conceito de tecnologia, isto é, um conjunto de procedimentos sistematizados produzindo um determinado resultado. A técnica enfatizada pela professora foi a que levou ao surgimento do cinema, ou seja, à projeção de imagens (fotografias) consecutivas a uma velocidade específica (18 quadros/segundo ou 24 quadros/segundo), dando a ideia de movimento, num registro da realidade até então nunca experimentado/percebido pelo homem. Tal técnica data do fim do século XIX (1895), tendo sido aperfeiçoada desde então, principalmente durante o século XX (do cinema documental-jornalístico, mudo e preto-e-branco às "modernas" películas dos dias atuais).

Modernidade ou Idade Moderna corresponderia ao período histórico usualmente compreendido entre a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 e a Revolução Francesa de 1789, a partir da qual passa-se a falar em Idade Contemporânea ou pós-Moderna. No campo da Filosofia, há quem faça uma espécie de fusão dos dois períodos, contrastando as formas de percepção e de exercício da subjetividade da Idade Média (ou "Idade das Trevas") com as da Modernidade (ou "Idade das Luzes"), estas últimas notadamente influenciadas pelos ideais renascentistas, iluministas, humanistas. O homem ganha o centro do processo de percepção, subjetividade e aquisição de conhecimento (espistemologia). A compreensão de mundo deixa de ser teocêntrica e passa a ser antropocêntrica. A fé dá lugar à razão.

Dessa forma, o mundo dito "contemporâneo" ainda encontra-se sob a influência das ideias cartesianas (René Descartes), nascidas no mundo dito "moderno". Ainda fazemos separação entre corpo e mente ("penso, logo, existo", fundação da Filosofia moderna, do "Eu" pensante), nossa medicina ainda possui um enfoque sintomático e predominantemente voltada à compreensão do corpo e seus potenciais antígenos, em detrimento da mente como potencial causadora de patologias. Daí a divisão entre Medicina e Psicologia, entre o que é "medicina tradicional" e "medicina alternativa". Note que estamos falando de concepções próprias do mundo ocidental: as concepções orientais e a própria medicina oriental correm marginalmente no Ocidente, enquanto alternativas, sem o status próprio de ciência.

A compreensão da natureza pela ciência (ciências naturais) está amplamente imersa em concepções galileanas (Galileu Galilei) ou newtonianas (Isaac Newton), ambos pensadores/cientistas modernos. Somente no século XX, por meio dos estudos de Einstein, Bohr e outros, a mecânica clássica/newtoniana é posta em xeque, dando lugar à mecânica quântica. Ainda assim, a mecânica quântica tem um campo de estudo bem definido: o mundo sub-atômico. Para os demais fenômenos naturais, continuam válidas as concepções modernas de Galileu e Newton. Além disso, o método científico lógico-indutivo da era Moderna continua sendo amplamente aceito e válido, em contraposição ao lógico-dedutivo de Aristóteles.

O método cientifico ainda é o mesmo proposto por Francis Bacon, considerado o pai da ciência moderna, por ter lançado as bases do empiricismo, da experimentação, da observação e da razão teórica. Nosso direito e política ainda encontram elementos da discussão sobre natureza humana e Estado propostos por Hobbes ("o homem é o lobo do homem"; Estado como o grande "Leviatã"), Locke (o homem como uma "folha de papel em branco", sujeito ao empiricismo, à aquisição de conhecimento via seus sentidos; pai do liberalismo clássico) e Rousseau ("o homem é bom, a sociedade o corrompe"; teoria do contrato social), este último tendo inspirado (mas não incitado, já que morre onze anos antes, em meados de 1778) a Revolução Francesa de 1789.

Esse período/movimento da história moderna em que houve uma sistematização teórico-científica dos ideais e evoluções técnico-epistemológicas (isto é, na forma de compreender o mundo) iniciadas no Renascimento ficou conhecido como Iluminismo. Trata-se de um movimento de "trazer à luz" da razão temas que ficavam "à sombra" da fé inconteste. Daí o antagonismo "Idade das Trevas" (Idade Média) vs. "Idade das Luzes" (Idade Moderna). Renascimento (séculox XIV, XV, XVI), Revolução Protestante (século XVI) e Iluminismo (séculos XVII, XVIII): passa-se da dependência à autonomia no processo de aquisição do conhecimento. Fala-se em "esclarecimento" (do alemão Aufklärung), o homem deixando a sua menoridade (Kant), isto é, a sua "infância epistemológia": o homem passa a pensar por si, a exercer sua subjetividade via sua percepção da realidade objetiva, sem a necessidade de direção de outros. O homem é conclamado ao "Sapere aude!", isto é, ao "Ouse saber!" - tenha coragem de pensar/saber por si mesmo.

Já no século XVIII, sobre a ideia moderna de saber/razão, segundo Marilena Chauí, Hegel sugere: 1) a autonomia da Filosofia no processo de subjetivação, não dependendo ou se submetendo a dogmatismos ideológicos, sejam eles religiosos ou de outras ordens, tais como a política; 2) a tomada de "consciência da consciência", isto é, a reflexão sobre o ato de ser consciente; 3) direitos iguais e universais ao pensamento e à verdade. A dialética de Hegel, um idealista, inspirará o materialismo histórico-dialético de Marx. A dialética de Hegel e, sobretudo, a de Marx, traduzem bem as influências ou trocas mútuas/recíprocas realizadas entre a realidade objetiva e o pensamento subjetivo dos filósofos nela inseridos.

Também no século XVIII, Kant, por sua vez, após suas duas primeiras críticas ("Crítica da Razão Pura", de 1781; "Crítica da Razão Prática", de 1788), introduz a ideia de "gosto" ou estética, em sua "Crítica do Julgamento" (1790). Trata-se do "gosto" mental, subjetivo, em contraste com o "gosto" ao qual estamos acostumados, associado ao paladar, físico, objetivo. Diz-se que "gosto não se discute", mas, para Kant, gosto se discute, sim! Não só se discute, como se vai além: depois de admitir "eu gosto disso", o sujeito usaria sua percepção para entender "por que eu gosto disso?". Fala-se em "refinamento" da ideia de gosto quando o sujeito/indivíduo: 1) dispõe-se a comparar e refletir sobre o valor estético atribuído à parte do mundo objetivo a que se refere ao afirmar "eu gosto disso"; 2) dispõe-se à reflexão abandonando seus pré-conceitos; 3) dispõe de sua inspiração e criatividade na análise.

Apesar de ser favorável à discussão sobre o "gosto", sobre o que é ou deixa de ser "belo", Kant contesta o resultado da análise subjetiva como sendo dotado de "certa" ou "alguma" universalidade, mas não uma total universalidade. "A universalidade do juízo estético é detectada por envolver um exercício persuasivo de convencimento de outro sujeito que aquela determinada forma da natureza ou da arte é bela. E, dessa forma, torna aquele valor universal. Os sujeitos têm em comum um princípio de avaliação moral livre que determina a avaliação estética e, portanto, julga o belo como universal."

Estética (do grego, aisthesis) tem, em seu significado original, a ideia de percepção, de sensação ou "percepção pelos sentidos".  O juízo estético está ligado à capacidade de imaginação e à criatividade, contrapondo-se ao juízo lógico/prático enquanto processo de apreensão do belo em uma obra de arte. A estética surge como disciplina filosófica em 1750, por meio de Baumgarten, e é a base do estudo do cinema/filme como meio de reflexão/subjetivação realizada, entre outros, por Joseph Früchtl. Com o Sistema do Idealismo Transcendental de Schelling (1800), a arte torna-se objeto de estudo privilegiado da Estética, ou seja, a Estética tornou-se a filosofia da arte.

Walter Benjamin, integrante da chamada Escola de Frankfurt, contribui com os estudos da estética em "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica".
"O ponto central desse estudo encontra-se na análise das causas e consequências da destruição da 'aura' que envolve as obras de arte, enquanto objetos individualizados e únicos. Com o progresso das técnicas de reprodução, sobretudo do cinema, a aura, dissolvendo-se nas várias reproduções do original, destituiria a obra de arte de seu status de raridade. Para Benjamin, a partir do momento em que a obra fica excluída da atmosfera aristocrática e religiosa, que fazem dela uma coisa para poucos e um objeto de culto, a dissolução da aura atinge dimensões sociais. Essas dimensões seriam resultantes da estreita relação existente entre as transformações técnicas da sociedade e as modificações da percepção estética. A perda da aura e as consequências sociais resultantes desse fato são particularmente sensíveis no cinema, no qual a reprodução de uma obra de arte carrega consigo a possibilidade de uma radical mudança qualitativa na relação das massas com a arte."
"Benjamin considera ainda que a natureza vista pelos olhos difere da natureza vista pela câmara, e esta, ao substituir o espaço onde o homem age conscientemente por outro onde sua ação é inconsciente, possibilita a experiência do inconsciente visual, do mesmo modo que a prática psicanalítica possibilita a experiência do inconsciente instintivo. Exibindo, assim, a reciprocidade de ação entre a matéria e o homem, o cinema seria de grande valia para um pensamento materialista. Adaptado adequadamente ao proletariado que se prepararia para tomar o poder, o cinema tornar-se-ia, em consequência, portador de uma extraordinária esperança histórica."22

Como ainda não havia a TV, o cinema da primeira metade do século XX era um importante veículo de comunicação de massas. Filmes como "Tempos Modernos", "Metrópolis", "Alphaville" e "O Grande Ditador" permitem uma apreensão crítica do belo pelo homem moderno, o belo sendo, por exemplo, a apreensão subjetiva da realidade moderna dos frios centros urbanos, da indústria como criadora de autômatos, da crítica a ideologias como o nazismo e regimes ditatoriais. Num processo de re-estruturação receptiva, o espectador do cinema moderno aprende e se diverte simultaneamente, relaciona-se com o filme de uma maneira totalmente diferente da observada em outras artes (ritmo diferente, possibilidade de edição, interrupção e fragmentação).

Além disso, a subjetividade se dá não só pela recepção, mas também pela auto-exibição, isto é, a possibilidade de se realizar uma passagem (real ou virtual) da posição de receptor para a posição de ator, colocando-se (metaforicamente ou não) à frente das câmeras, num processo subjetivo de auto-reflexão. Eu ousaria extrapolar essa relação das massas com a técnica do cinema, contextualizando a relação das massas com a técnica das atuais redes sociais, viabilizadas pela internet. Somos receptores de uma quantidade de informação nunca antes imaginada, ao mesmo tempo que somos atores de um processo cada vez mais democrático e universal de percepção e mudança social, haja vista a Primavera Árabe (2010-2012) e as manifestações ocorridas nos últimos dias no Brasil (2013): a articulação via internet/redes sociais permite a deslocalização dos protestos, fazendo com que os mesmos ganhem perspectiva nacional e mesmo internacional.

Parte da segunda metade da aula foi dedicada à exibição do filme "Tempos Modernos" (1936), escrito e dirigido por Charles Chaplin. O filme mostra dilemas e paradigmas da modernidade, levando os espectadores - por meio da quebra de expectativa propiciada pelo riso - a um processo de reflexão/subjetivação da realidade objetiva moderna. O que é "belo" em "Tempos Modernos"? Para mim, o encontro subjetivo/kantiano da consciência consigo mesma, isto é, a auto-reflexão sobre o meu sistema valorativo, sobre meu comportamento, sobre minhas posições ideológicas face aos paradigmas da modernidade técnico-industrial/burguesa.




Aviso: Próxima aula, dia 26 de Junho, haverá PROVA! A matéria da prova, aparentemente, será a matéria da aula de hoje e a matéria da aula passada. Vou ver se consigo fazer um resumo de ambas e atualizar aqui. Talvez caia alguma coisa, alguma referência sobre os filmes que já assistimos até aqui - isso a professora não falou, é apenas um palpite meu. Mas, pelo jeito, não cai aquela parte de lógica/falácias, que vai valer 30% dessa primeira nota. A prova vai ser individual. Haverá uma segunda prova no final do mês de Julho.

Referências:
  1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade
  2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Percepção
  3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Técnica
  4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Contemporânea
  5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna
  6. http://pt.wikipedia.org/wiki/René_Descartes
  7. http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei
  8. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Newton
  9. http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein
  10. https://pt.wikipedia.org/wiki/Niels_Bohr
  11. http://pt.wikipedia.org/wiki/Raciocínio_indutivo
  12. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon
  13. http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes
  14. http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke
  15. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
  16. http://pt.wikipedia.org/wiki/Renascimento
  17. https://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo
  18. http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel
  19. http://pt.wikipedia.org/wiki/Estética
  20. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Gottlieb_Baumgarten
  21. http://www.inquietude.org/index.php/revista/article/view/177
  22. http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sociologia - Aula #

Hoje tivemos a apresentação do primeiro seminário, um debate sobre o texto "Para além da crítica dos meios de comunicação", do professor Nildo Viana.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Teorias do Jornalismo - Aula #

A professora Silvana Coleta encerrou a discussão sobre as teorias construcionistas, fechando a matéria deste semestre.

Na próxima aula, dia 25 de Junho, haverá uma revisão da matéria. Na aula seguinte, dia 02 de Julho, ocorrerá a nossa segunda prova. Será individual e oral.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Língua Portuguesa I

Hoje não houve aula. A professora Regina Crispim não pôde comparecer por motivos de saúde.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cultura Brasileira I - Aula #

Hoje visitamos a Fazenda Babilônia, uma fazenda que fica no município de Pirenópolis/GO e que data de 1800. A proprietária, Dona Telma, animou a manhã desta sexta-feira com uma série de curiosidades sobre a história da fazenda, a qual se confunde com a história de Goiás e com momentos marcantes da história do Brasil.

A fazenda destaca-se por ter abrigado cerca de 200 escravos, os quais trabalhavam em um engenho de açúcar - algo bastante incomum para a realidade goiana do século XIX, uma vez que a produção de açúcar localizava-se predominantemente na faixa litorânea do Nordeste e do Sudeste, além do fato de que era grande a dificuldade de se trazer escravos da costa brasileira para o Centro-Oeste do país. Segundo a proprietária, os escravos teriam sido trazidos para Goiás com a finalidade trabalhar na mineração. Entretanto, como o ciclo do ouro foi bastante efêmero em solos goianos, os escravos da Fazenda Babilônia passaram a se dedicar à produção do açúcar.

O passeio começou com um farto café-da-manhã colonial/sertanejo. Em seguida, a Dona Telma nos conduziu por um passeio histórico pela fazenda, o qual incluiu curiosidades:

  • dos tempos coloniais, como o fato de a senzala da Fazenda Babilônia ter abrigado escravos solteiros e casados, estes últimos possuindo uma ala separada da dos solteiros; 
  • dos tempos das bandeiras e da mineração, como um caminho de pedras de Pirenópolis e um sistema de escoamento de água recém-descobertos na fazenda, os quais teriam sido descobertos por acaso pela proprietária, numa tentativa de melhorar o acesso para visitantes; 
  • dos tempos de Império, como um sino premiado e possuindo um selo de D. Pedro II ou como estórias de estrangeiros que se faziam padres da noite para o dia, apenas para receber ofertas pela realização de um batismo ou casamento (devido à dificuldade que encontrava a Igreja em enviar bispos e padres para a região - a maioria morria ou adoecia no caminho, os clérigos eram, portanto, raros em Goiás);
  • dos tempos de República, como uma baioneta e chapéu que teriam pertencido a Carlos Prestes, o qual teria se hospedado na fazenda;
  • sobre expressões do nosso dia-a-dia, como "vou puxar palha" ou "fulano enquanto descansa, carrega pedra";
  • sobre a história de Pirenópolis, como uma placa de carro-de-boi, artefatos usados nas cavalhadas;
  • sobre a história das comunicações, como uma antiga máquina fotográfica, uma antiga máquina de escrever e uma biblioteca contendo jornais da época da fundação de Pirenólopis.




















quinta-feira, 13 de junho de 2013

Filosofia - Aula #

Faltei essa aula... Alguém teria um resumo?

Pelo que sei, na primeira metade da aula, a professora comentou o texto "O discurso filosófico da modernidade", de Jürgen Habermas.

Na segunda metade da aula, ela teria exibido o documentário "Janela da Alma".