Comecemos por diferenciar o conto popular do conto literário. O primeiro consiste na forma popular/folclórica de criação coletiva da linguagem. O segundo consiste na forma artística, produto exclusivo de um estilo peculiar/individual.
Os contos populares advêm de heranças de crenças e mitos primitivos que se adaptaram a novos contextos culturais. Provêm de camadas não letradas da população, da literatura oral tradicional. São obstáculos ao conto popular as transformações do modo de vida das sociedades industrializadas, onde predomina a televisão, a qual não só "conta", como também "mostra", moldando a imaginação do leitor. Atualmente, o conto popular tende a restringir-se, portanto, aos meios rurais ou localidades que estejam distantes da indústria, da eletricidade, da televisão, onde o sentar-se ao redor da fogueira para contar histórias (casos, contos) insiste em sobreviver.
Os contos literários têm, em suas origens, esses casos populares, com função lúdica e moralizante, construídos e reconstruídos por contadores de histórias das comunidades, os quais tentavam seduzir seu auditório ao compartilhar acontecimentos, sentimentos e ideias. A própria limitação/concisão do conto literário advém dos contos/casos populares, da tradição oral - ao contrário do romance, que tem suas raízes na cultura escrita e na leitura.
Características: o conto é breve/conciso (qualitativamente), curto (quantitativamente possui um número reduzido de linhas), em contraste com o romance, que é longo; tem um número reduzido de personagens, geralmente anônimas e prototípicas (rei, princesa, padre, dragão); sua ação é concentrada (poucas ou apenas uma ação); sua localização temporal é indefinida (o que lhe dá caráter de permanência temporal). O tipo textual é o narrativo, em prosa; o esquema temporal e espacial é restrito. Possui uma unidade de tom, efeito, tensão e intenção: não há intrigas secundárias, como no romance, o que lhe confere uma imensa força derivada da totalidade dessa unidade.
Temas: diversos - maravilhosos, da carochinha, de animais, de adivinhação, religiosos, de fada, etc. O conto busca o insólito, a surpresa, o inédito do "já visto". Pode ser extraído de um fragmento da realidade, um episódio fugaz, dados extraordinários do real, que muitas vezes passam despercebido. Numa analogia dialética, a vida seria a tese; a expressão escrita da vida, a antítese; o conto, a síntese: simultaneamente uma síntese viva e uma vida sintetizada. A fugacidade numa permanência. Metaforicamente, o conto estaria para a fotografia, assim como o romance está para o filme.
Estudos Teóricos: na teoria sobre o gênero conto de Edgar Alan Poe, há três princípios básicos:
- extensão;
- efeito único;
- contenção
Nenhum comentário:
Postar um comentário