Subjetividade seria a capacidade que cada indivíduo tem de pensar por si mesmo, de refletir. "Na teoria do conhecimento, a subjetividade é o conjunto de ideias, significados e emoções que, por serem baseados no ponto de vista do sujeito, são influenciados por seus interesses e desejos particulares. Tem como oposto a objetividade, que se baseia em um ponto de vista intersubjetivo, isto é, que pode ser verificável por diferentes sujeitos." Essa capacidade de reflexão, dependendo do contexto, pode levar o indivíduo a um quadro de ação-reação ou mesmo de automação, como no caso do filme "Tempos Modernos", de Chaplin.
Percepção seria a função cerebral responsável por atribuir sentido às informações/estímulos sensoriais, isto é, advindos dos sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato). Fala-se ainda em percepção temporal (passagem do tempo), espacial (tamanho e distância entre objetos) e propriocepção (capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua orientação, força exercida pelos músculos, posição de cada parte do corpo em relação às demais). Nossa capacidade de percepção estaria sujeita, por exemplo, à influência temporal (idade do indivíduo). Entretanto, o foco da aula foi sobre a influência da técnica sobre a percepção dos indivíduos e, consequentemente, sobre o exercício de sua subjetividade.
Técnica, considerando o contexto da aula, seria um conceito muito próximo ou mesmo coincidente com o conceito de tecnologia, isto é, um conjunto de procedimentos sistematizados produzindo um determinado resultado. A técnica enfatizada pela professora foi a que levou ao surgimento do cinema, ou seja, à projeção de imagens (fotografias) consecutivas a uma velocidade específica (18 quadros/segundo ou 24 quadros/segundo), dando a ideia de movimento, num registro da realidade até então nunca experimentado/percebido pelo homem. Tal técnica data do fim do século XIX (1895), tendo sido aperfeiçoada desde então, principalmente durante o século XX (do cinema documental-jornalístico, mudo e preto-e-branco às "modernas" películas dos dias atuais).
Modernidade ou Idade Moderna corresponderia ao período histórico usualmente compreendido entre a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 e a Revolução Francesa de 1789, a partir da qual passa-se a falar em Idade Contemporânea ou pós-Moderna. No campo da Filosofia, há quem faça uma espécie de fusão dos dois períodos, contrastando as formas de percepção e de exercício da subjetividade da Idade Média (ou "Idade das Trevas") com as da Modernidade (ou "Idade das Luzes"), estas últimas notadamente influenciadas pelos ideais renascentistas, iluministas, humanistas. O homem ganha o centro do processo de percepção, subjetividade e aquisição de conhecimento (espistemologia). A compreensão de mundo deixa de ser teocêntrica e passa a ser antropocêntrica. A fé dá lugar à razão.
Dessa forma, o mundo dito "contemporâneo" ainda encontra-se sob a influência das ideias cartesianas (René Descartes), nascidas no mundo dito "moderno". Ainda fazemos separação entre corpo e mente ("penso, logo, existo", fundação da Filosofia moderna, do "Eu" pensante), nossa medicina ainda possui um enfoque sintomático e predominantemente voltada à compreensão do corpo e seus potenciais antígenos, em detrimento da mente como potencial causadora de patologias. Daí a divisão entre Medicina e Psicologia, entre o que é "medicina tradicional" e "medicina alternativa". Note que estamos falando de concepções próprias do mundo ocidental: as concepções orientais e a própria medicina oriental correm marginalmente no Ocidente, enquanto alternativas, sem o status próprio de ciência.
A compreensão da natureza pela ciência (ciências naturais) está amplamente imersa em concepções galileanas (Galileu Galilei) ou newtonianas (Isaac Newton), ambos pensadores/cientistas modernos. Somente no século XX, por meio dos estudos de Einstein, Bohr e outros, a mecânica clássica/newtoniana é posta em xeque, dando lugar à mecânica quântica. Ainda assim, a mecânica quântica tem um campo de estudo bem definido: o mundo sub-atômico. Para os demais fenômenos naturais, continuam válidas as concepções modernas de Galileu e Newton. Além disso, o método científico lógico-indutivo da era Moderna continua sendo amplamente aceito e válido, em contraposição ao lógico-dedutivo de Aristóteles.
O método cientifico ainda é o mesmo proposto por Francis Bacon, considerado o pai da ciência moderna, por ter lançado as bases do empiricismo, da experimentação, da observação e da razão teórica. Nosso direito e política ainda encontram elementos da discussão sobre natureza humana e Estado propostos por Hobbes ("o homem é o lobo do homem"; Estado como o grande "Leviatã"), Locke (o homem como uma "folha de papel em branco", sujeito ao empiricismo, à aquisição de conhecimento via seus sentidos; pai do liberalismo clássico) e Rousseau ("o homem é bom, a sociedade o corrompe"; teoria do contrato social), este último tendo inspirado (mas não incitado, já que morre onze anos antes, em meados de 1778) a Revolução Francesa de 1789.
Esse período/movimento da história moderna em que houve uma sistematização teórico-científica dos ideais e evoluções técnico-epistemológicas (isto é, na forma de compreender o mundo) iniciadas no Renascimento ficou conhecido como Iluminismo. Trata-se de um movimento de "trazer à luz" da razão temas que ficavam "à sombra" da fé inconteste. Daí o antagonismo "Idade das Trevas" (Idade Média) vs. "Idade das Luzes" (Idade Moderna). Renascimento (séculox XIV, XV, XVI), Revolução Protestante (século XVI) e Iluminismo (séculos XVII, XVIII): passa-se da dependência à autonomia no processo de aquisição do conhecimento. Fala-se em "esclarecimento" (do alemão Aufklärung), o homem deixando a sua menoridade (Kant), isto é, a sua "infância epistemológia": o homem passa a pensar por si, a exercer sua subjetividade via sua percepção da realidade objetiva, sem a necessidade de direção de outros. O homem é conclamado ao "Sapere aude!", isto é, ao "Ouse saber!" - tenha coragem de pensar/saber por si mesmo.
Já no século XVIII, sobre a ideia moderna de saber/razão, segundo Marilena Chauí, Hegel sugere: 1) a autonomia da Filosofia no processo de subjetivação, não dependendo ou se submetendo a dogmatismos ideológicos, sejam eles religiosos ou de outras ordens, tais como a política; 2) a tomada de "consciência da consciência", isto é, a reflexão sobre o ato de ser consciente; 3) direitos iguais e universais ao pensamento e à verdade. A dialética de Hegel, um idealista, inspirará o materialismo histórico-dialético de Marx. A dialética de Hegel e, sobretudo, a de Marx, traduzem bem as influências ou trocas mútuas/recíprocas realizadas entre a realidade objetiva e o pensamento subjetivo dos filósofos nela inseridos.
Também no século XVIII, Kant, por sua vez, após suas duas primeiras críticas ("Crítica da Razão Pura", de 1781; "Crítica da Razão Prática", de 1788), introduz a ideia de "gosto" ou estética, em sua "Crítica do Julgamento" (1790). Trata-se do "gosto" mental, subjetivo, em contraste com o "gosto" ao qual estamos acostumados, associado ao paladar, físico, objetivo. Diz-se que "gosto não se discute", mas, para Kant, gosto se discute, sim! Não só se discute, como se vai além: depois de admitir "eu gosto disso", o sujeito usaria sua percepção para entender "por que eu gosto disso?". Fala-se em "refinamento" da ideia de gosto quando o sujeito/indivíduo: 1) dispõe-se a comparar e refletir sobre o valor estético atribuído à parte do mundo objetivo a que se refere ao afirmar "eu gosto disso"; 2) dispõe-se à reflexão abandonando seus pré-conceitos; 3) dispõe de sua inspiração e criatividade na análise.
Apesar de ser favorável à discussão sobre o "gosto", sobre o que é ou deixa de ser "belo", Kant contesta o resultado da análise subjetiva como sendo dotado de "certa" ou "alguma" universalidade, mas não uma total universalidade. "A universalidade do juízo estético é detectada por envolver um exercício persuasivo de convencimento de outro sujeito que aquela determinada forma da natureza ou da arte é bela. E, dessa forma, torna aquele valor universal. Os sujeitos têm em comum um princípio de avaliação moral livre que determina a avaliação estética e, portanto, julga o belo como universal."
Estética (do grego, aisthesis) tem, em seu significado original, a ideia de percepção, de sensação ou "percepção pelos sentidos". O juízo estético está ligado à capacidade de imaginação e à criatividade, contrapondo-se ao juízo lógico/prático enquanto processo de apreensão do belo em uma obra de arte. A estética surge como disciplina filosófica em 1750, por meio de Baumgarten, e é a base do estudo do cinema/filme como meio de reflexão/subjetivação realizada, entre outros, por Joseph Früchtl. Com o Sistema do Idealismo Transcendental de Schelling (1800), a arte torna-se objeto de estudo privilegiado da Estética, ou seja, a Estética tornou-se a filosofia da arte.
Walter Benjamin, integrante da chamada Escola de Frankfurt, contribui com os estudos da estética em "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica".
"O ponto central desse estudo encontra-se na análise das causas e consequências da destruição da 'aura' que envolve as obras de arte, enquanto objetos individualizados e únicos. Com o progresso das técnicas de reprodução, sobretudo do cinema, a aura, dissolvendo-se nas várias reproduções do original, destituiria a obra de arte de seu status de raridade. Para Benjamin, a partir do momento em que a obra fica excluída da atmosfera aristocrática e religiosa, que fazem dela uma coisa para poucos e um objeto de culto, a dissolução da aura atinge dimensões sociais. Essas dimensões seriam resultantes da estreita relação existente entre as transformações técnicas da sociedade e as modificações da percepção estética. A perda da aura e as consequências sociais resultantes desse fato são particularmente sensíveis no cinema, no qual a reprodução de uma obra de arte carrega consigo a possibilidade de uma radical mudança qualitativa na relação das massas com a arte."
"Benjamin considera ainda que a natureza vista pelos olhos difere da natureza vista pela câmara, e esta, ao substituir o espaço onde o homem age conscientemente por outro onde sua ação é inconsciente, possibilita a experiência do inconsciente visual, do mesmo modo que a prática psicanalítica possibilita a experiência do inconsciente instintivo. Exibindo, assim, a reciprocidade de ação entre a matéria e o homem, o cinema seria de grande valia para um pensamento materialista. Adaptado adequadamente ao proletariado que se prepararia para tomar o poder, o cinema tornar-se-ia, em consequência, portador de uma extraordinária esperança histórica."22
Como ainda não havia a TV, o cinema da primeira metade do século XX era um importante veículo de comunicação de massas. Filmes como "Tempos Modernos", "Metrópolis", "Alphaville" e "O Grande Ditador" permitem uma apreensão crítica do belo pelo homem moderno, o belo sendo, por exemplo, a apreensão subjetiva da realidade moderna dos frios centros urbanos, da indústria como criadora de autômatos, da crítica a ideologias como o nazismo e regimes ditatoriais. Num processo de re-estruturação receptiva, o espectador do cinema moderno aprende e se diverte simultaneamente, relaciona-se com o filme de uma maneira totalmente diferente da observada em outras artes (ritmo diferente, possibilidade de edição, interrupção e fragmentação).
Além disso, a subjetividade se dá não só pela recepção, mas também pela auto-exibição, isto é, a possibilidade de se realizar uma passagem (real ou virtual) da posição de receptor para a posição de ator, colocando-se (metaforicamente ou não) à frente das câmeras, num processo subjetivo de auto-reflexão. Eu ousaria extrapolar essa relação das massas com a técnica do cinema, contextualizando a relação das massas com a técnica das atuais redes sociais, viabilizadas pela internet. Somos receptores de uma quantidade de informação nunca antes imaginada, ao mesmo tempo que somos atores de um processo cada vez mais democrático e universal de percepção e mudança social, haja vista a Primavera Árabe (2010-2012) e as manifestações ocorridas nos últimos dias no Brasil (2013): a articulação via internet/redes sociais permite a deslocalização dos protestos, fazendo com que os mesmos ganhem perspectiva nacional e mesmo internacional.
Parte da segunda metade da aula foi dedicada à exibição do filme "Tempos Modernos" (1936), escrito e dirigido por Charles Chaplin. O filme mostra dilemas e paradigmas da modernidade, levando os espectadores - por meio da quebra de expectativa propiciada pelo riso - a um processo de reflexão/subjetivação da realidade objetiva moderna. O que é "belo" em "Tempos Modernos"? Para mim, o encontro subjetivo/kantiano da consciência consigo mesma, isto é, a auto-reflexão sobre o meu sistema valorativo, sobre meu comportamento, sobre minhas posições ideológicas face aos paradigmas da modernidade técnico-industrial/burguesa.
Aviso: Próxima aula, dia 26 de Junho, haverá PROVA! A matéria da prova, aparentemente, será a matéria da aula de hoje e a matéria da aula passada. Vou ver se consigo fazer um resumo de ambas e atualizar aqui. Talvez caia alguma coisa, alguma referência sobre os filmes que já assistimos até aqui - isso a professora não falou, é apenas um palpite meu. Mas, pelo jeito, não cai aquela parte de lógica/falácias, que vai valer 30% dessa primeira nota. A prova vai ser individual. Haverá uma segunda prova no final do mês de Julho.
Referências:
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Percepção
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Técnica
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Contemporânea
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna
- http://pt.wikipedia.org/wiki/René_Descartes
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Newton
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Niels_Bohr
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Raciocínio_indutivo
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes
- http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Renascimento
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Estética
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Gottlieb_Baumgarten
- http://www.inquietude.org/index.php/revista/article/view/177
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin
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