Estudo do gênero literário CRÔNICA.
Origens da palavra "crônica": A palavra crônica teria suas origens na palavra grega chronos. O mito em torno do deus grego Chronos (deus do tempo, equivalente ao deus romano Saturno) consiste no fato de que ele, com medo de ser destronado, engolia seus próprios filhos. Um deles, Zeus, com a ajuda da mãe, teria escapado e, mais tarde, feito o pai vomitar todos os seus irmãos, arrastando-o para o Tártaro e prendendo-o no mundo subterrâneo, juntamente com os outros titãs, tornando-se, assim, divindade suprema do Olimpo, deus do céu. O conceito por trás do mito consiste no fato de Chronos, assim como a crônica, querer barrar a passagem do tempo (cronológico). Ao engolir os filhos, Chronos eternizava-se no poder, cristalizando o tempo. Da mesma forma, a crônica tenta captar uma fração do tempo cronológico, eternizando-a.
A crônica segundo os cronistas: Para Machado de Assis, a crônica seria "a fusão admirável do útil e do fútil". Para Carlos Drummond de Andrade, a aparente frivolidade/insignificância da crônica contrasta com a monstruosidade amarga dos desastres. Sem a obrigação da apuração, correção, avaliação crítica de fenômenos sociais, o cronista (ao contrário do jornalista) joga um "jogo que esgota-se em si, para recomeçar no dia seguinte, sem obrigação de sequência". A crônica, em sua origem legada a um canto ou às margens das páginas dos jornais, seria como aqueles objetos pequeninos, aparentemente inúteis, guardados num canto da casa, "os nadas de uma existência atulhada de objetos imprescindíveis e, ao cabo, indiferentes, quando não fatigantes". Para Vinícius de Moraes, as crônicas são colhidas das notícias ou da concentração do cronista, havendo: os que a fazem de maneira simples, direta; os que a fazem de modo lento, demorado; os que a fazem no ou-vai-ou-racha; os eufóricos, os tristes, os modestos, os vaidosos, etc. Uns são lidos por prazer, outros por vício. Mas este gênero "menor" ou "marginalizado", segundo ele, caíram no gosto do público, que o saboreia como quem toma um "cafezinho quente seguido de um bom cigarro".
A crônica segundo os teóricos/críticos do gênero: Inicialmente, a crônica destinava-se a contar relatos verídicos, históricos, cronológicos, geralmente ligados ao cotidiano/história da nobreza (exemplo: primeiro e segundo livro das Crônicas presentes no Antigo Testamento da Bíblia cristã). É a partir do século XIX que os cronistas transformam a crônica em um motivo de reflexão sobre a vida social, os costumes, o cotidiano. Usualmente assinada, a crônica atual tem motivos diversos, recebendo, conforme a esfera social que retrata, um qualificativo: literária, policial, esportiva, política, jornalística, etc.
Segundo Sérgio Roberto Costa: texto curto, simples, acessível a todos, de interlocução direta com o leitor, com marcas de oralidade. Sua função: agradar aos leitores. Tema preferido: o acontecimento insignificante, ao qual ninguém tenha prestado atenção, o fato miúdo, a cena corriqueira. "É a pausa de subjetividade, ao lado da objetividade do restante do jornal. Considerada um gênero menor da literatura, pode, entretanto, conter seus momentos mais altos, a filosofia do cotidiano, a agudeza dos bons ensaios". Segundo Antônio Cândido, trata-se da "sensibilidade de todo dia", que "na sua despretensão, humaniza". Para Afrânio Coutinho, é o "gênero literário mais ligado ao jornal", com uma natureza, ao mesmo tempo, literária e ensaística. Ao passo que o jornalista veicula a informação ou a opinião por meio da notícia, o cronista usa-a como pretexto, veiculando uma "reação individual, pessoal, íntima, diante do espetáculo da vida". Uma busca por transcendência e arte, sobreposta a objetividade jornalística.
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