A classificação dos gêneros do discurso tem por objetivo, como qualquer outra classificação, aprofundar o conhecimento sobre o tema. Para tanto, a tarefa exige método e ordem. O objeto desse estudo é a heterogeneidade discursiva. A classificação deve ser, ao mesmo tempo, geral, fornecendo uma lista (não-exaustiva) das principais constantes de cada gênero, e particular, possibilitando a identificação do gênero em questão.
As classificações/tipologias são diversas. As que foram tratadas em aula são três, refletindo as concepções de linguagem estudadas:
- tipologias cognitivas (Adam - 1991)
- tipologias funcionais (Jakobson - 1963)
- sócio-interacionista (Bakhtin - 1986, 1992)
As tipologias cognitivas (Adam) refletem a concepção de linguagem como espelho/expressão do pensamento. O critério da classificação é a organização cognitiva dos conteúdos. A finalidade é a compreensão do funcionamento textual através de uma definição das operações subjacentes à produção (locutor, emissor) e compreensão (receptor). Estritamente linguística, baseada em estruturas sequenciais prototípicas dos textos, essa classificação realiza uma provisória suspensão das condições sócio-históricas de produção dos enunciados. Tipos:
- narração
- descrição
- argumentação
- explicação
- diálogo
As tipologias funcionais (Jakobson) refletem a concepção de linguagem como instrumento de comunicação. O critério da classificação é o conjunto de funções do ato comunicativo verbal, de acordo com a ênfase em um ou outro elemento do ato comunicativo. Crítica: prevê um ato comunicativo idealizado, não prevê ruídos e interferências típicas de praticamente todo ato comunicativo. Tipos (elemento [função]):
- remetente [expressiva/emotiva]
- destinatário [apelativa/conativa]
- contexto/referente [referencial]
- canal [fática]
- mensagem [poética]
- código [metalinguística]
A tipologia sócio-interacionista (Bakhtin) reflete a concepção de linguagem como processo, como interação. Os enunciados são, portanto, produto de interações sociais. O critério de classificação é o conjunto de condições sócio-históricas do contexto de produção do discurso. Assim, a diversidade de atos comunicativos reflete-se em uma diversidade de gêneros textuais. Nesse sentido, a classificação proposta por Bakhtin é geral, flexível, não específica:
- gêneros primários (ou livres): advindos do cotidiano, da oralidade, tendo relação imediata com a situação em que foram produzidos.
- gêneros secundários (ou estandardizados): advindos das trocas culturais (principalmente escritas), tais como por ocasião de manifestações artísticas, científicas, sociais, políticas, etc. Mais complexos, absorvem e assimilam os gêneros primários.
Bakhtin defende a ideia de que um gênero não pode ser tratado de forma cristalizada, homogeneizada. Um gênero apresenta traços de regularidade, o que lhe confere certa estabilidade. Entretanto, co-existem na classificação dos gêneros proposta por Bakhtin, forças centrípetas, que trazem o texto para o seu padrão de repetibilidade e regularidade enquanto gênero; e forças centrífugas, que ameaçam sua estabilidade e refletem o contexto da interação comunicativa. Os textos são, portanto, um ambiente de tensão e instabilidade, dependentes do contexto dialógico da comunicação. Considera-se, também, aspectos linguísticos, isto é, a materialidade linguística dos textos. Mas a tônica da classificação é, de fato, o aspecto sócio-histórico-cultural da instituição discursiva. O receptor/emissor antecipa ou tem visão do texto como um todo acabado pelo conhecimento prévio do paradigma dos gêneros a que teve acesso em suas relações com a linguagem.
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