sexta-feira, 31 de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sociologia - Aula #

Fechamento da discussão sobre socialização. Seminários explicados, grupos formados, sorteio dos temas.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Teorias do Jornalismo - Aula #

Não marquei nas minhas anotações, mas acredito que, nessa aula, a professora tenha iniciado a exposição do Capítulo 5 do livro do Traquina.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Língua Portuguesa I - Aula 7

O tema da aula de hoje da professora Regina Crispim foi coesão e coerência textuais. A primeira parte da aula foi dedicada ao estudo da coesão; a segunda, ao estudo da coerência.

Na produção de um texto, coesão e coerência estão imbricadas, isto é, parcialmente sobrepostas, sendo "extremamente difícil, ou mesmo impossível estabelecer uma separação nítida entre um e outro fenômeno".

Coesão

A coesão materializa-se através de fatores que conferem sequenciação ao texto, seja de forma explícita (através de conectivos, mecanismos formais que permitem relações de sentido entre elementos do texto), seja de forma implícita (através de uma sequenciação lógica, dependente do conhecimento de mundo do autor do texto e do leitor para se realizar).

Vimos cinco categorias de coesão (as quais também podem ocorrer imbricadas):
  • Referência
    • Exofórica (também chamada Situacional ou Extratextual)
    • Endofórica (também chamada Textual ou Intratextual)
      • Anafórica
      • Catafórica
  • Substituição
    • Nominal
    • Verbal
  • Elipse
  • Conjunção
  • Lexical

Exemplos:
Referência Exofóricao termo a que se refere encontra-se fora do texto. 
"Como vimos no primeiro capítulo deste livro..."
"Na aula passada, conversamos sobre..."
"Conforme a definição de mais-valia proposta por Marx..." 
Referência Endofórica Anafórica: o termo a que se refere encontra-se dentro do texto e já foi expresso. No primeiro exemplo abaixo, o pronome pessoal do caso reto "Ele" (2º período) refere-se e substitui "O professor" (1º período). No segundo, o pronome demonstrativo "isso" (2º período) refere-se e substitui "Responsabilidade e seriedade" (1º período). 
"O professor chegou tarde para a aula. Ele se atrasou por conta do engarrafamento na Av. Goiás."
"Responsabilidade e seriedade. É isso que eu espero de vocês." 
Referência Endofórica Catafórica: o termo a que se refere encontra-se dentro do texto e ainda não foi expresso. No exemplo abaixo, o pronome demonstrativo "isto" antecipa "responsabilidade e seriedade". 
isto que eu espero de vocês: responsabilidade e seriedade." 
Substituição Nominal: o termo que se substitui é um nome (substantivo).  
"O professor chegou tarde para a aula. Ele se atrasou por conta do engarrafamento na Av. Goiás." 
Substituição Verbal: o termo que se substitui é um verbo, locução ou uma oração inteira. O verbo "fazer" é substituto dos verbos causativos/ação, enquanto o verbo "ser" é substituto dos verbos existenciais/de estado. 
"O papa ajoelhou-se. As pessoas também."
"O papa ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo."
"O papa é cristão. Muitos dos que ali estavam também."
"O papa é cristão. Muitos dos que ali estavam eram." 
Elipse: omissão de um termo recuperável pelo contexto. Substituição por zero. 
"Você cumpriu os prazos. Eu, não." (Eu não cumpri os prazos.)
"João Paulo II esteve em Goiânia. Aqui, disse que a igreja continua a favor do celibato." (João Paulo II disse que a igreja continua a favor do celibato
Conjunção: trata-se de uma relação semântica de coesão, não necessariamente realizada pela classe gramatical de mesmo nome. "Os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos." 
"Apesar de ter ido mal nas primeiras provas, o aluno alcançou êxito ao final do semestre." (relaçao de concessão
Lexical: reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo referente. 
"O papa esteve em Goiânia. Sua Santidade beijou o solo goiano." (sinônimo)
"Eu adoro cocada. É o doce que eu mais gosto." (hiperônimo)
"Sempre tem confusão na Pecuária. É uma coisa muito triste." (coisa = confusão na Pecuária) 

Coerência

"Enquanto a coesão se dá ao nível micro-textual, a coerência caracteriza-se como o nível de conexão conceitual e de estruturação do sentido, manifestado, em grande parte, macro-textualmente."

"Um texto contém mais do que o sentido das expressões na superfície textual, pois deve incorporar conhecimentos e experiência cotidiana, atitudes e intenções, isto é, fatores não linguísticos." Pode, por exemplo, ocorrer incoerência por discordância ideológica.

Níveis de coerência:
  • Narrativa: o texto respeita as implicações lógicas da narrativa;
  • Argumentativa: não há contradição entre os argumentos apresentados;
  • Figurativa: as alegorias são coerentes (exemplo: pomba = paz, lebre = velocidade, tartaruga = lentidão, raposa = esperteza);
  • Temporal: o texto respeita a sucessividade dos eventos (anterioridade, concomitância e posterioridade);
  • Espacial: compatibilidade em termos de localização, organização e descrição espaciais (exemplo de incoerência: "A Torre Eiffel é ponto de passagem obrigatória para os visitantes de Londres.")
  • Nível de linguagem: compatibilidade entre linguagem e público alvo (exemplo: aula de Língua Portuguesa na universidade, no Ensino Fundamental ou no meio rural - a linguagem deve ser coerente com a faixa etária/público alvo).

AVISOS
  • Não haverá aula na próxima segunda-feira, dia 27/05/2013;
  • A prova final ficou marcada para o dia 22/07/2013;
  • Até o dia 22/07/2013, todos devem entregar um resumo do texto "Gêneros Discursivos", do Bakhtin e uma resenha de um filme (o qual ainda vai ser tema de uma aula futura);
  • Quem não puder fazer a prova do dia 22/07 poderá fazer uma prova substitutiva no dia 29/07/2013.

Referências:

segunda-feira, 13 de maio de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sociologia - Aula 4


O tema da aula de hoje foi "A Teoria da Sociedade em Marx".

O professor Nildo Viana iniciou a aula com uma breve biografia de Karl Marx (1818 - 1883), citando algumas de suas obras mais emblemáticas como: "A ideologia alemã", "O Capital", "Os manuscritos de Paris", "O manifesto comunista" e "O dezoito de brumário". Marx teria se inspirado na fisolofia de Hegel e Feuerbach, tendo sido expulso da Alemanha e posteriormente da França em razão de sua obra. É na Inglaterra que Marx irá encontrar refúgio para exercer suas posições político-ideológicas.

No campo acadêmico/intelectual, ao contrário de Durkheim e Weber, Marx não estaria interessado na construção de uma nova ciência - a sociologia. No campo teórico, enquanto Durkheim preocupava-se com a integração do indivíduo à sociedade capitalista e enquanto Weber preocupava-se com a temática da vocação política dos governantes da Alemanha do século XIX, a preocupação principal das teorias de Marx teria sido a emancipação humana em sua totalidade.

Em 1843, Marx teria cunhado a expressão luta de classes, que, segundo ele, seria o motor da história. Dentro dessa temática, Marx irá trabalhar a ideia de natureza humana e alienação.

Com relação à natureza humana, Marx critica vários filósofos, entre eles, Hobbes e Rousseau. Para Hobbes, "o homem é o lobo do próprio homem"; para Rousseau, os indivíduos são naturalmente bons, "a sociedade os corrompe". Marx defende a ideia de que a natureza humana está atrelada ao modelo de sociedade em que os indivíduos se inserem. As sociedades primitivas, escravista, feudal e capitalista teriam visto, portanto, diferentes concepções de "natureza humana". Para Marx, o ser humano não é nem mal, nem bom: ele é um produto do contexto material e histórico em que se insere.

Com relação à alienação do trabalho, Marx explica que, na sociedade capitalista, contrariamente ao artesão, ao camponês e ao artista, o trabalhador não se reconhece no produto final do seu trabalho. Na sociedade capitalista, o trabalho perde, portanto, o seu caráter teleológico, isto é, o trabalhador não vê a que fim se destina o seu trabalho, não trabalha de forma plenamente consciente quanto à realização da essência de seu trabalho. A finalidade do trabalho, bem como os meios de produção, seria propriedade de uma minoria burguesa. Por isso fala-se em alienação. Por isso fala-se de uma relação de conflito/luta de classes.

Quando se fala em modo de produção, fala-se do modo como os bens são produzidos e reproduzidos através de relações de produção em um determinado modelo de sociedade.

Nas sociedades sem classes, os seres humanos dependeriam da natureza para prover suas necessidades básicas, tais como comer, beber, dormir, vestir, reproduzir-se, não havendo uma teia complexa de relações de produção.

Nas sociedades com classes, as relações de produção começam a se diferenciar. Na Antiguidade Clássica, as relações de produção baseavam-se num modo de produção escravocrata, opondo senhores e escravos. Na Idade Média, num modo de produção servil, opondo nobres e servos. Na Idade Moderna, co-existiriam diferentes modos de produção, sendo o modo de produção capitalista o modo dominante, opondo o proletariado e a burguesia.

Classe social seria um grupo de indivíduos com modo de vida, oposição e interesses comuns. Na sociedade capitalista, o proletariado, com a finalidade de satisfazer às suas necessidades básicas, vende sua força de trabalho mediante contrato assinado com a burguesia, classe detentora das forças produtivas ou meios de produção (saber técnico, tecnologia).

Nesse sentido, a mão-de-obra proletária é, assim como os demais bens de consumo, uma mercadoria. Seu preço seria determinado pela concorrência com os demais proletários, os quais, para atender a suas necessidades básicas, submeter-se-iam a baixos salários, o que impossibilitaria a mobilidade social pelo trabalho em si. O trabalho assalariado tem, portanto, "aparência" de livre. Em sua "essência", entretanto, o trabalho assalariado perpetua a exploração da classe trabalhadora pela burguesia.

Comentou-se a respeito da ideia de mais-valor ou mais-valia introduzida por Marx. Num modo de produção mercantil simples, a produção de mercadorias supriria em parte a necessidade do produtor. A parte excedente da produção destinar-se-ia à troca por outras mercadorias, satisfazendo, assim, as necessidades básicas do produtor/camponês. Já no modo de produção capitalista, o capitalista detém o capital e, portanto, possui meios de investir em mão-de-obra e meios de produção. Os trabalhadores produziriam não somente o necessário a atender em parte ou totalmente suas próprias necessidades. Verdade seja dita, eles desconhecem o processo produtivo como um todo. Entretanto, seu trabalho, em conjunto, agrega valor às mercadorias e atende às metas de produção do capitalista. À diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma dos custos de produção envolvidos (mão-de-obra e meios de produção) num dado período, Marx denominou mais-valor ou mais-valia.

A esse processo de apropriação da mais-valia (excedente de capital), Marx denomina reprodução ampliada de capital. Esta última levaria à acumulação de capital e à formação de oligopólios.

Falou-se ainda sobre a divisão marxista da estrutura social em superestrutura e infraestrutura (ou base). A superestrutura seria o conjunto ideológico (moral, política, religião, formas de consciência social) e jurídico (direito, Estado), compreendendo classes que não produzem bens materiais, e que, segundo Marx, seria determinado pela infraestrutura. Não se trata de determinismo econômico, entretanto. O que Marx quis dizer é que a infraestrutura, isto é, as relações de produção (todo o aparato que permite a produção de bens) determina a moral, a política, a religião, o direito e o Estado, através de um processo histórico dialético, concreto e material. Tal ideário e aparato jurídico, por sua vez, legitimaria a infraestrutura - no caso capitalista, a exploração do proletariado e a acumulação de capital pela burguesia.

Comentou-se, assim, sobre a concepção marxista de ideologia. Ideologias surgem a partir do momento em que ocorre uma divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Para Marx, as ideologias surgem quando o trabalho intelectual, por ser inevitavelmente influenciado pelos valores pessoais de seu autor, presta-se à legitimação sistemática e naturalização do ideário da classe dominante, fazendo inversões da realidade. Na sociedade escravista da Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles teria afirmado: "A escravidão será eterna." Na Idade Média, os teólogos sustentariam a divisão do trabalho a partir da naturalização da mesma: "Os servos nascem para servir." Com o fim da URSS, Fukuyama retomaria uma ideia de Hegel, afirmando: "A história acabou." Tal afirmação eternizaria o modo de produção capitalista. Em suma, ideologias trocam a essência da realidade por sua aparência. Segundo Marx, cabe ao intelectual reverter as inversões provocadas pelas ideologias. Ao falar de religião, por exemplo, Marx propõe "O homem criou Deus", como alternativa a "Deus criou o homem".

Encerrou-se a aula falando da estratégia capitalista de diminuição do tempo de vida das mercadorias com a finalidade de fomentar o consumismo. Dessa forma, o consumismo não seria algo pessoal, mas uma consequência do sistema capitalista, o qual "cria necessidades" para sobreviver. São exemplos: "produtos descartáveis" (como os computadores pessoais, diante dos avanços tecnológicos nessa área) e os modismos.

Próxima aula: Encerramento do debate sobre Marx e continuação da matéria.

Curso "Pensamento de Marx": Para quem se interessar, o professor divulgou em sala de aula e via e-mail. Inscrições: http://jeanisidio2.wix.com/cursonupac

terça-feira, 7 de maio de 2013

Teorias do Jornalismo - Aula 6

A aula de hoje foi uma apresentação dos capítulos 2 e 3 do do livro “Teorias do Jornalismo – Volume I” de Nelson Traquina.

No Capítulo 2, Traquina aponta três vertentes fundamentais para o desenvolvimento do jornalismo na democracia:
  • sua expansão
    • com a expansão da imprensa no século XIX
    • com a expansão de novos meios de comunicação, como o rádio e a TV, no século XX
    • com a expansão da internet, no fim do século XX e início do século XXI
  • sua comercialização
    • com a emergência de uma nova mercadoria: a informação/notícia
  • sua profissionalização
    • com a profissionalização dos jornalistas e consequente definição das mesmas em função de valores e normas que apontam para o papel social da informação numa democracia.

A expansão da imprensa

É no século XIX que emerge um novo paradigma do fazer jornalístico: informação, não propaganda. A notícia vira bem de consumo, as tiragens e a comercialização (vendas + assinantes) aumentam. É o que Traquina chama de "novo jornalismo", isto é, o jornalismo como empresa ("penny press"). A professora Silvana Coleta lembrou que "novo jornalismo" também pode se referir a uma vertente mais literária do jornalismo, principalmente nos EUA das décadas de 1960 e 1970.

A instalação desse novo paradigma, que despolitiza a imprensa, privilegiando os fatos e não a opinião/propaganda, só foi possível com a chegada de novas formas de financiamento dos jornais, via receitas com publicidade e rendimentos crescentes das vendas. A professora comentou a respeito das diferenças no estilo de jornalismo praticado nos EUA e na França atualmente. A escola norte-americana valorizaria os fatos, enquanto a escola francesa valorizaria a opinião.

Assim, o século XIX pode ser considerado o "século de ouro" do jornalismo devido à sua expansão, comercialização e profissionalização, sustentadas:
  • pelo desenvolvimento econômico-capitalista - transformando a notícia em bem de consumo;
  • pelo desenvolvimento tecnológico - viabilizando altas tiragens e rapidez na veiculação das notícias;
  • por fatores sociais como:
    • a alfabetização - com a instituição de escolas públicas, formando o público consumidor;
    • a urbanização - facilitando a distribuição e concentrando o público consumidor.
  • pelo desenvolvimento do sistema político - caminhando rumo à democracia, liberdades individuais e de imprensa.

A luta pela liberdade


Para Traquina, "a afirmação da nova legitimidade jornalística ocorre perante o antagonismo do poder político, inserido num processo secular em luta pela liberdade, e, subsequentemente, pela conquista de uma nova forma de governo: a democracia. O poder absoluto é posto em causa e existe a procura de caminhos alternativos, perante dúvidas sobre os benefícios e os custos de um sistema de poder que tem como base a 'opinião pública'."

Contribuições à luta contra a censura de um poder político absoluto, sob a forma de monarquia:
  • John Milton: Areopagítica, meados do século XVII - manifesto contra a censura, só a apresentação de todos os lados de uma questão poderá permitir a sua compreensão;
  • John Locke: Two Treatises on Government, 1960 - defesa do direito de revolução;
  • Montesquieu: O Espírito das Leis, 1748 - bases para a Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa de 1789;
  • Rousseau: O Contrato Social, 1762 - as expressões "interesse público" ou "opinião pública" ganham sentido político;
  • Voltaire: conceito de tolerância; a autoridade da lei; a importância da liberdade de opinião.

"Impulsionada pelas revoluções americana (1776) e francesa (1789), a liberdade torna-se um princípio sagrado."

O "Quarto Poder" e a democracia

Aqui Traquina defende o desenvolvimento do jornalismo em simbiose com a democracia, isto é, à medida que a democracia/liberdade ia ganhando novos sentidos/rumos, o jornalismo também assim o fazia.

A expressão "quarto poder" (do inglês, fourth state), por exemplo, é usada pela primeira vez em 1828 por um deputado do parlamento inglês, McCaulay, referindo-se aos jornalistas como um "quarto estado", considerando os três estados da Revolução Francesa (clero, nobreza e camponeses/burguesia nascente). À época, a imprensa ainda era identificada como sendo constituída de demagogos, fanáticos, conspiradores ou escritores de terceira categoria. 

É com o desenvolvimento das filosofias liberais-democráticas dos séculos XVII, XVIII e XIX, particularmente com as ideias dos "utilitaristas ingleses" Bentham e Mills, que a ideia de jornalismo como "quarto poder" revolucionário e/ou de conspiração transforma-se na concepção que se tem hoje de "quarto poder", que, por um lado, fiscaliza os poderes republicano-democráticos, e que, por outro lado, nutre e expressa a opinião pública.

O novo jornalismo

Na concepção trabalhada por Traquina, o novo jornalismo é o jornalismo de empresa, despolitizado, que acompanhou o desenvolvimento do ideário democrático, passando de porta-voz de propaganda política a:
  • vigilante do poder político e protetor dos cidadãos contra eventuais/históricos abusos dos governantes (liberdade "negativa", segundo a conotação trazida por Traquina);
  • prestador de serviço público, fornecedor de informações aos cidadãos - informações necessárias para o desempenho das suas responsabilidades cívicas (liberdade "positiva").

Nessa trajetória de desenvolvimento do jornalismo, muda-se o conceito de notícia. Passa-se de um jornalismo de opinião para um jornalismo de informação. A notícia é algo objetivo, factual, eventualmente sensacionalista, que traz atualidade, novidade e, sobretudo, que é de interesse público.

A professora comentou aqui sobre a diferença entre "interesse público" e "interesse do público". Falou-se também da transformação da concepção de repórter ao longo do tempo, de fanático revolucionário e porta-voz de um ideário propagandístico a portador da verdade, dotado (algumas vezes) de certo prestígio entre as elites sociais e políticas. Falou-se ainda da especialização e crescente divisão do trabalho na imprensa.

No Capítulo 3, Traquina discorre sobre a profissionalização do jornalismo.

Inicia-se o capítulo falando sobre o pouco prestígio que tinham os jornalistas do século XIX. "É o mais vil e degradante de todos os ofícios, porque são necessárias mais hipocrisia e afetação, e mais subserviência aos baixos sentimentos dos outros para o exercer, que em qualquer outro negócio." (John Stuart Mills, citado em Elliott, P. 1978:176, "Professional Ideology and Organizational Change: The Journalist Since 1800").

À época, com uma situação grave de desemprego, os jornalistas submetiam-se a baixos salários. Eram, entretanto, dotados de um certo prestígio por ser uma profissão intelectual, requerendo uma educação literário, mas sem a exigência de um período de preparação longo e dispendioso. 

"Com o desenvolvimento da reportagem, e em particular a grande reportagem, o jornalismo ganha algum prestígio. [...] Na virada do século, a conotação da palavra "repórter" mudou completamente. O termo, que designava 'a mais humilde categoria das gentes da imprensa', vai tornar-se 'como por uma metamorfose à vista desarmada, uma das mais prestigiadas e invejadas'."

A regulamentação da profissão inicia-se nos EUA. Havia, à época, grande insegurança e instabilidade no emprego de imprensa. Além disso, trabalhava-se muitas horas e tinha-se poucas férias. Tais condições de trabalho refletiam-se nas notícias. O sistema de pagamento por linhas, levava alguns a "esticarem" as notícias. O sensacionalismo garantia melhores hipóteses de publicação e, portanto, de pagamento ao jornalista. Citações de nomes de políticos ou de celebridades também geravam alguns rendimentos.

A profissionalização do jornalismo como se conhece hoje passou pela formação de clubes e associações, além do surgimento de cursos universitários que institucionalizaram a profissão. Além disso, o texto jornalístico vai ganhando contornos próprios a partir do final século XIX e principalmente no século XX, fazendo emergir um sentido de autoridade profissional. 

A preocupação deontológica (preocupação ética do que veicular, do que não veicular, de como veicular, direitos e obrigações do jornalista ao veicular a infomação) e a formatação da mensagem jornalística sob a manifestação de crescentes saberes específicos (conceitos de pirâmide invertida, lead, gênero entrevista, gênero reportagem, linguagem específica, estenografia) começam a "reivindicar um monopólio de saberes, indicativo da construção de uma 'profissão'."

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Próxima aula: Prova!!! Matéria:

  • Livros do Nilson Lage ("A Estrutura da Notícia" e "A Linguagem Jornalística"); 
  • Prefácio + Capítulos 1 e 2 do livro do Nelson Traquina ("Teorias do Jornalismo").

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Língua Portuguesa I - Aula 5

O tema da aula de hoje foi: "Introdução ao estudo do texto".

A professora Regina Crispim iniciou a primeira parte da aula retomando o que foi visto em aulas anteriores:

  • As 3 concepções de linguagem:
    • 1ª concepção: Linguagem como espelho/expressão do pensamento
    • 2ª concepção: Linguagem como instrumento de comunicação
    • 3ª concepção: Linguagem como processo/interação (Bakhtin)

  • Os 6 elementos constitutivos da comunicação e as 6 funções de linguagem deles derivadas (Roman Jacobson):
    • Emissor (emotiva ou expressiva)
    • Receptor (conativa ou apelativa)
    • Forma da Mensagem (poética)
    • Conteúdo/Contexto da Mensagem (referencial)
    • Código (metalinguística)
    • Canal (fática)

Em seguida, foi trabalhada a concepção do sujeito da produção textual enquanto entidade psico-físico-social. Essa concepção compreende as 3 concepções de linguagem estudadas: psico (1ª concepção), físico e social (2ª e 3ª concepções).

Enfatizando-se a 3ª concepção de linguagem como a mais completa em termos de descrição dos atos comunicativos, retomou-se a noção, vista na aula anterior, de que a intenção do emissor deflagra a comunicação. Entretanto, enquanto interação/processo, a comunicação prevê um receptor ativo. Dessa forma, o receptor, ao interpretar um texto, constrói significados, a partir da realidade em que se insere, de suas habilidades/capacidades inatas/desenvolvidas e dos recursos que tem à sua disposição. O processo de comunicação/leitura é, portanto, dialético.

Exemplos: deficientes físicos/visuais/auditivos ao interpretarem um "texto" - no sentido mais amplo da palavra, enquanto materialização de uma determinada linguagem - exemplificam a construção de significado a partir de habilidades/capacidades inatas/desenvolvidas; uma intertextualidade só pode ser percebida se o receptor tiver tido acesso aos "recursos" necessários para compreendê-la - nesse caso, o "texto" a que se refere o emissor, como é o caso da gravura à esquerda, em que se faz referência à pintura "O Grito", do norueguês Edvard Munch.



Trabalhando em mais profundidade o conceito de "texto", pode-se defini-lo como a "unidade mínima significativa à qual é possível conferir um sentido". 

Nesse ponto da aula, a professora apresentou uma crítica a Saussure, linguista que teria separado a fala da escrita, considerando esta última como menos variável e, portanto, mais passível de uma análise interpretativa eficaz. 

Também foi feito um contraste entre gramáticas que param no estudo da frase como unidade mínima significativa (visão de Jacobson) e gramáticas gerativistas, as quais privilegiariam a criatividade da linguagem e o texto como unidade mínima significativa. Segundo as gramáticas gerativistas, a partir de uma estrutura inicial de oração/frase, o emissor poderia criar novas estruturas, derivadas da original, não sendo necessário (nem possível!) aprender todas as estruturas existentes em uma linguagem para um bom desempenho linguístico (visão de Chomsky).

Exemplos: As frases "Acordei cedo", "Vi as rosas" e "Fiquei infeliz" possuem, isoladamente, um significado próprio. Entretanto, em conjunto, elas não formam uma unidade significativa, não formam um "texto". Falta um contexto que explique a infelicidade do eu-lírico ao ver as rosas. As frases "Acordei tarde", "Cheguei atrasado" e "Perdi a prova", além de possuírem um significado quando isoladas (orações coordenadas assindéticas), quando juntas, elas formam um texto, isto é, uma unidade mínima significativa que prescinde de qualquer outra informação adicional.

Falou-se ainda do texto como matriz para a ocorrência coerente dos elementos do sistema linguístico. Dois importantes elementos dessa matriz são o gênero e o tipo textuais.

Os gêneros são variados e têm a ver com o conteúdo dos textos. São dinâmicos, surgindo com o desenvolvimento da linguagem, em sua interação diacrônica com a realidade social. Os tipos são mais restritos e têm a ver com a forma dos textos. São exemplos de tipos de texto: o narrativo, o argumentativo e o descritivo.

Na segunda parte da aula, comentou-se que o "sujeito-leitor se constitui na relação com a linguagem", isto é, a linguagem contribui para formação da identidade do leitor. Essa identidade, segundo Barthes, define a quais pontos o leitor inclinará o seu olhar, em seu processo de leitura interativa do texto.

Falou-se ainda do autor do texto como o seu primeiro leitor e, portanto, criador do efeito-leitor, isto é, da leitura esperada do texto, a qual revelaria as intenções do autor ao escrevê-lo. Desse modo, "a leitura é/realiza esse jogo, esse trabalho do sentido sobre o sentido".

Comentou-se sobre a necessidade de se levar em conta o contexto de produção do texto, o qual se pode denotar a partir de marcas ideológicas, bem como a partir de marcas no próprio signo/código. Exemplos: diferenças que podem ser encontradas entre a grafia de vocábulos aqui no Brasil e a realizada em Portugal; o histórico "ph" em "pharmacia" ou o "h" de Bahia.

Resumindo a temática da aula de hoje em uma frase: "A materialidade da ideologia é o discurso; a materialidade do discurso é a língua/linguagem; e a manifestação concreta da discursividade é o texto." Ou seja, a intenção/ideologia do emissor, materializa-se em um discurso, pontapé inicial para a comunicação. O discurso sistematiza-se e organiza-se ao submeter-se à codificação e nuances da linguagem, enquanto processo/interação. Por sua vez, a linguagem materializa-se, enquanto unidade mínima significativa, no texto.

Encerrou-se a aula fazendo-se uma interpretação do poema "O assassino era o escriba", de Paulo Leminski.

O assassino era o escriba 
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
Inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular com um paradigma da primeira conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

No poema, Paulo Leminski utiliza a função metalinguística da linguagem para promover o efeito de humor, promovendo a aproximação entre a temática explorada (o enfadonho estudo de sintaxe da língua portuguesa experimentado pelo eu-lírico e por muitos estudantes) e sua expressão poética.

A adesão do leitor à imagem do professor criada por Leminski é imediata, devido à identificação entre leitor e eu-lírico, muito provavelmente co-experimentadores de um mesmo contexto de aprendizagem formal da gramática/sintaxe.

Marcas - como a forma verbal "era", no título, possivelmente remetendo ao "era uma vez" de alguns contos infantis - permitem classificar o texto como pertencente ao gênero conto/poesia de ficção, por exemplo. A presença  de um narrador, de personagens, de uma sequência ínicio-meio-fim e de uma descrição de personagens seguida por um enredo permitem classificá-lo como pertencente ao tipo "narração".

O elemento de coesão "o", em "matei-o", no último verso, permite a leitor fazer as trajetórias do professor e do aluno no poema. O professor começa como sujeito ("Meu professor", no primeiro verso) e termina como objeto ("matei-o"). O aluno, por sua vez, inicia-se como objeto de tortura do professor e termina como sujeito/autor do crime ("matei").

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cultura Brasileira I - Aula 4

Na primeira parte da aula, foi exibido o documentário "Somos Yanomami", produzido pelo Ministério da Cultura e pelo Conselho Nacional da Cultura venezuelanos.

Os Yanomami são um grupo de aproximadamente 20.000 pessoas, distribuídas em 200-250 aldeias indígenas na fronteira entre o Brasil e a Venezuela.1

A professora Luciene Dias iniciou a discussão falando sobre a etnografia como metodologia da antropologia no estudo de etnias.2 Ela mencionou ainda as diferentes abordagens que podem ser empreendidas nesse estudo: a do jornalista, a do sociólogo e a do antropólogo. Metaforicamente, o jornalista aproximaria-se de tais comunidades fazendo um sobrevoo sobre as mesmas; o sociólogo passaria de carro, um pouco mais próximo, mas ainda distante da realidade das aldeias; o antropólogo viria à pé e nu, despido de pré-conceitos, disposto a viver em contato e em troca com os nativos.


Na segunda parte da aula, foi discutido o capítulo 7 das "Memórias Sanumá", de Alcida Rita Ramos, fazendo um paralelo do mesmo com o documentário "Somos Yanomami".

O texto discorre sobre o fato de os Sanumá manterem seus nomes em sigilo, passando toda uma vida sem saber ou sem divulgar os seus próprios nomes. O texto trabalha o significado que os nomes próprios têm para os Sanumá, bem como os conceitos de privado e público para os mesmos.

A professora destacou a existência de quatro troncos linguísticos:
  • Yanomami
  • Yanoman
  • Yonam
  • Sanumá

Os dois primeiros, pelo histórico de trocas culturais com o Ocidente, estariam mais próximos do que se poderia chamar de cultura ocidental. Ao afirmar "Somos irmãos, mas somos diferentes", ao final do documentário, o Yanomami entrevistado revela a diferença de costumes existente entre a sua cultura e a cultura ocidental, bem como entre a sua cultura e as dos demais povos Yanomami - como, por exemplo, os Sanumá.

Pode-se depreender do texto de Rita Ramos que, ao contrário dos Yanomami do documentário, os Sanumá  encaram as esferas pública e privada de forma distinta. "O ato de nomear não é tão inocente e folclórico quanto parece."3 O nome de um Sanumá traz consigo um conceito, uma organização social, uma história. Não se trata apenas de uma identificação pessoal, isto é, um modo de se distinguir dos demais. Trata-se de uma identidade coletiva, ou seja, uma maneira de evidenciar o pertencimento a uma determinada comunidade local, suas tradições, sua cultura.

Para a cultura ocidental, o ato de nomear, em geral, não traz tal conotação. Para a cultura brasileira, em particular, são comuns os estrangeirismos e nomes que pouco têm a ver com a ascendência ou identidade dos indivíduos. Em muitos casos, os nomes revelam o passado de dominação europeia, a estrutura de exploração colonial que aqui se implantou. Não raro, o ato de nomear segue ainda padrões ideológicos hegemônicos. Não haveria uma tradução do pertencimento, da noção de coletividade, como há entre os Sanumá.

Nesse ponto da aula, surgiram algumas discussões em torno do tema, como o debate sobre o que se considera primitivo e do que é considerado moderno ou civilizado. A professora contrastou ainda os saberes locais com as interpretações "globalizadas", a busca por uma explicação única e geral para diferentes realidades do "ser" humano. Numa crítica à cultura ocidental, ela ilustrou as diferenças entre as árvores genealógicas do mundo ocidental e as do mundo Yanomami. As primeiras estariam centradas no indivíduo em questão (egôcentricas), enquanto as últimas evidenciariam o coletivo. Falou-se ainda em pasteurização das relações sociais, um processo pelo qual "aspectos considerados perturbadores da realidade social são travestidos em aspectos inócuos, destituídos de vida própria ou convertidos em preceitos morais. Por outras palavras: a pasteurização social procura eliminar os micro-organismos patogênicos sociais."4 Daí as não raras crises de identidade, solidão e depressão no mundo ocidental. Exemplificando essa temática do "pertencimento", Carolina Otto leu o texto "Pertencer"5, de Clarice Lispector.

A professora retomou, então, uma indicação feita na aula anterior, o poema "Me gritaron negra", da mexicana Victoria Santa Cruz.


Diante da crise de identidade do mundo ocidental (em particular, na realidade brasileira), Victoria Santa Cruz convida a uma afirmação positiva de identidade: "Sim, sou negra!".

No caso dos Sanumás, a singularidade de um indivíduo traduz-se através de seu próprio nome. Ao incorporar informações acerca de sua linhagem e comunidade, o nome de um Sanumá, ao mesmo tempo que o distingue dos seus xarás, insere-o em sua coletividade de origem.

Apesar de algumas crenças Sanumás também justificarem o fato de os seus nomes serem mantidos em sigilo (como o mal que um determinado inimigo poderia causar-lhes, pelo pronunciar de seus nomes próprios), a questão do sigilo dos nomes parece ser mais uma questão de etiqueta, recato e respeito com a "pessoalidade", privacidade e identidade de cada um. Não há problema algum em conhecer o nome de um Sanumá, a questão gira em torno do uso do nome em si - como exemplificado no texto pelo episódio em que uma missionária, em alta voz, chamava a todos pelo nome, desconsiderando esse aspecto de sua cultura.

Pelo fato de os nomes Sanumás trazerem toda uma história pessoal, sobretudo valores da esfera privada, pode-se fazer uma aproximação entre a sua prática de sigilo de nomes próprios com a prática ocidental de silenciar-se quanto ao que é privado, quanto ao que se é de fato, quanto à afirmar-se enquanto singularidade/coletividade.

Texto para a próxima aula: "Identidades políticas e alteridades históricas: uma crítica às certezas do pluralismo global", artigo de Rita Laura Segato.

Referências
  1. http://en.wikipedia.org/wiki/Yanomami
  2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Etnografia
  3. Notas de aula.
  4. http://oficinadesociologia.blogspot.com.br/2012/05/pasteurizacao-social-23.html
  5. http://pensador.uol.com.br/frase/MjcxMTY/

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Filosofia - Aula 4

A primeira parte da aula foi um fechamento da discussão sobre o filme "O Enigma de Kaspar Hauser". Foi exibida a parte final do filme e, em seguida, houve uma discussão sobre o mesmo.

O tema principal do filme seria o debate sobre o processo de aquisição de conhecimento ou espitemologia. Hauser ficara trancafiado até a idade adulta, praticamente sem interação social, o que protelou o desenvolvimento de sua linguagem falada/escrita, faculdades cognitivas, educação formal, cristã e musical. Trata-se de um contraponto às ideias de Descartes, por exemplo, uma vez que o processo de aquisição do conhecimento passa, no filme, pelo empirismo.

Haveria ainda uma defesa do bom selvagem, do homem em seu estado de natureza. A ideia é transmitida pela contraposição feita entre cenas de Kaspar sentindo-se bem no contato lúdico/empírico com a natureza e cenas em que uma exposição à intelectualidade secular/cristã e refinamento fazem-no sentir-se mal. Tal contraste parece encontrar seu clímax quando Hauser afirma ter sido mais feliz em seus anos de cativeiro do que quando entrou em contato com a sociedade. A base da infelicidade de Kaspar parece ter origem também em sua incapacidade de adquirir o conhecimento que lhe passou a ser imposto como válido/verdadeiro.

Foram ainda comentadas as duas histórias contadas por Hauser: a de seres humanos em procissão, subindo uma montanha em cujo topo encontrava-se a morte; e a de uma caravana guiada por um cego, o qual parece ver além/melhor do que aqueles considerados "normais" - numa referência à estranheza demonstrada pela sociedade com relação ao próprio Kaspar, evidenciada pela análise de seus órgãos internos, ao final do filme. Por ter sido privado da formação intelectual/social "normal", a exemplo do guia cego, Kaspar parecia ver além/melhor a natureza e o mundo ao seu redor do que a sociedade de sua época.


Como introdução à segunda parte da aula, a professora retomou o desafio de lógica posto a Kaspar (aldeia da verdade vs. aldeia da mentira), lendo uma história/lenda persa, a qual versava sobre o mesmo tema.

A segunda parte da aula foi expositiva, centrada no debate dos capítulos 2 e 3 do livro "Introdução à Lógica", de Irving M. Copi.

O capítulo 2, "Usos de Linguagem", inicia-se com a exposição de três funções da linguagem básicas:

  • Informativa: objetiva, referencial, podendo ser avaliada como verdadeira ou falsa, usada para transmitir informações - como, por exemplo, a linguagem jornalística;
  • Expressiva: criativa, geralmente ficcional ou metafórica, que não pode ser avaliada como verdadeira ou falsa - como, segundo exemplo citado pela professora, a autobiografia de Rousseau;
  • Diretiva: ordens, convencimento - como, por exemplo, a linguagem de um professor em sala de aula, pedindo para que os alunos fiquem em silêncio.

Essas 3 funções da linguagem corresponderiam, respectivamente, às funções "referencial", "emotiva ou expressiva" e "conativa ou apelativa" estudadas na aula de Língua Portuguesa do dia 29 de abril de 2013. Corresponderiam, ainda, à 3ª, 1ª e 2ª pessoas do discurso, respectivamente. O texto também ressalta a possibilidade de coexistirem, num mesmo ato comunicativo, uma ou mais funções de linguagem.

O capítulo 3, "Falácias Não-Formais", trabalha a temática das falácias, isto é, "argumentos ou raciocínios que, embora incorretos, podem ser psicologicamente persuasivos".

Por exemplo: para as premissas "Todo homem é mortal." e "Vinícius é homem.", uma conclusão lógica, admitindo-se que as premissas sejam verdadeiras, seria "Vinícius é mortal." Entretanto, mantendo-se as mesmas premissas, a afirmação "Vinícius toma coca-cola." é irrelevante e desconexa, sendo, portanto, uma falácia.

O texto classifica as falácias da seguinte maneira:

  1. Ad Baculum (recurso à força): quando apela-se à força ou ameaça. É o caso quando tropas militares suprimem uma manifestação, como o ocorrido na Praça da Paz Celestial em 1989. Também ocorre quando um patrão, mediante um pedido de aumento de seu funcionário, após lamentar não poder atendê-lo, mostra-lhe a fila de candidatos à espera de uma vaga na empresa. 
  2. Ad Hominem (ofensivo): quando, em vez de tentar refutar a verdade do que se afirma, ataca-se a pessoa que fez a afirmação. Por exemplo, pode-se imaginar o julgamento de um homem que tenha assassinado a própria esposa. A defesa deve apelar para o fato desse homem ter sido sempre um bom pai, enquanto a esposa, quando em vida, não dispensava cuidado suficiente aos filhos, além de viver uma vida de alcoolismo.
  3. Ad Hominem (circunstancial): quando as circunstâncias são usadas para justificar argumentos ou ações. É o caso dos generais nazistas julgados em Nuremberg, em agosto de 1945, os quais se julgavam como inocentes, mediante o argumento de que estavam apenas seguindo ordens superiores. Há também o exemplo do caçador que, quando moralmente censurado por sua prática, indaga ao seu opositor: "Porque se alimenta o senhor com carne de gado inocente?". Nesse caso, a falácia ad hominem sustenta-se na circunstância de o opositor não ser vegetariano.
  4. Ad Ignorantiam (argumento pela ignorância): quando não há provas para sustentar o argumento, como inicialmente alegaram os advogados de defesa do caso Eliza Samúdio. Na ausência do corpo da vítima, a defesa alegava ser impossível julgar-se a veracidade ou a falsidade da acusação.
  5. Ad Misericordiam (apelo à piedade): quando apela-se à piedade ou compaixão para que determinada conclusão seja aceita. É o caso do aluno que apela à professora a revisão de sua nota, uma vez que, na data da realização da prova, seu tio estava gravemente ferido no hospital. Também amplamente usada em campanhas de preservação do meio-ambiente, de redução de acidentes no trânsito ou contra a fome, as quais fazem uso de imagens impactantes (caça predatória, acidentes horríveis ou crianças esquálidas) para atingir seus propósitos. 
  6. Ad Populum: fusiona outros tipos de falácia, como a ad misericordiam ou a ad hominem, para apelar à "anuência a uma conclusão que não é sustentada por boas provas". É o caso dos discursos populistas, das imagens de políticos com as mangas arregaçadas, abraçando crianças, apoiando a causa feminista, entre outros apelos emocionais.
  7. Ad Verecundiam (apelo à autoridade): quando apela-se a uma "falsa" autoridade como legitimação do que se afirma, normalmente alguém famoso, respeitado publicamente. Falácia usada em algumas propagandas e campanhas políticas/conscientização, como a campanha contra a instalação da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, levada a cabo por artistas globais.
  8. Acidente: quando aplica-se uma regra geral a um caso particular, como em "O que comprei ontem, comerei hoje." Tal afirmação é uma regra geral para as compras, mas não se aplica à carne crua (que ainda deve passar por cozimento antes de ser ingerida) ou a outros itens, não-comestíveis, da compra.
  9. Acidente Convertido (generalização apressada): quando um ou mais casos particulares são usados na construção de uma regra geral. É o caso de Romeu, que, por pertencer à família Montecchio, é tido como inimigo da família Capuleto e, portanto, seria inadmissível aceitá-lo como pretendente de Julieta.
  10. Falsa Causa: quando determinado argumento é sustentado como consequência de uma falsa causa. É o caso das superstições do cotidiano. É também o caso da associação feita no passado entre a contração do vírus da AIDS e a liberdade sexual dos anos 1970, quando se argumentava que a primeira seria uma consequência direta da segunda.
  11. Petitio Principii (petição de princípio): quando a própria conclusão que se tenciona provar é usada como premissa, em um raciocínio circular. É o caso quando alguém afirma que "Machado de Assis é maior escritor que José de Alencar, porque as pessoas com bom gosto literário preferem Machado de Assis a José de Alencar." Quando se indaga o autor da afirmação sobre "Como definir as pessoas que têm bom gosto literário?", a falácia revela-se na resposta: "Aquelas que se identificam pelo fato de preferirem Machado a Alencar."
  12. Pergunta Complexa: quando há duas perguntas em uma só ou quando, implicitamente, assume-se parte da pergunta como algo já respondida, como em "Seus olhos sempre ficam vermelhos quando você fuma maconha?" ou "Você já deixou de bater em sua esposa?". No primeiro caso, a pergunta traz consigo a afirmação de que o interlocutor é um usuário de maconha. No segundo, afirma-se que, em algum momento, o marido tenha batido em sua esposa. Não se pode, portanto, responder a uma pergunta complexa com um simples "sim" ou "não" sem haver comprometimento do respondente com a afirmação que está nela implícita.
Aviso: Não haverá aula na próxima quinta-feira, pois a professora Carla Milani estará voltando de um congresso em Brasília. Ela pediu que esse tempo fosse aproveitado na resolução dos exercícios propostos no texto, apenas aqueles marcados com uma estrela. Esse trabalho deve ser feito, preferencialmente, em duplas. A nota desse trabalho comporá a nota final da disciplina.


Referências

  1. Capítulos 2 e 3 do livro "Introdução à Lógica", de Irving M. Copi.
  2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Protesto_na_Praça_da_Paz_Celestial_em_1989
  3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Julgamentos_de_Nuremberg
  4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romeu_e_Julieta
  5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Síndrome_da_imunodeficiência_adquirida
  6. http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia
  7. http://pt.wikipedia.org/wiki/Usina_Hidrelétrica_de_Belo_Monte