A palavra "história" pode ter mais de um significado: o passado da humanidade, o estudo desse mesmo passado, uma narração qualquer, etc. O texto de Vavy Pacheco Borges abrange o segundo dos dois primeiros significados mencionados, lembrando que, em outras línguas, como no alemão, existem palavras diferentes para cada um deles (história-acontecimento vs. história-conhecimento).
Falar de História é falar da história do ser humano, das transformações pelas quais passaram os seres humanos. Todos somos parte da História, todos desempenhamos nela um papel, condicionados pela realidade material e social em que vivemos. Somos, ao mesmo tempo, sujeitos e agentes históricos.
A função da História, segundo a autora, é fornecer à sociedade uma explicação sobre ela mesma. Trata-se, portanto, de um trabalho interdisciplinar, envolvendo diferentes áreas de conhecimento, recorrendo tanto a disciplinas das chamadas Ciências Humanas (como a sociologia, as ciências políticas, a arqueologia, a toponímia, a linguística, a numismática), quanto a técnicas típicas das Ciências Naturais (como a datação via carbono 14).
Durante muito tempo, a explicação histórica foi pautada pela análise de momentos específicos, tais como momentos de crise e de ruptura. Entretanto, mais recentemente, os historiadores têm entendido tais momentos como: 1) o resultado de um processo lento de preparação voluntária ou mesmo involuntária; 2) momentos que não romperam totalmente com a estrutura política, econômica e social vigente até então. Assim, a preocupação central da História atualmente se volta não somente às transformações e mudanças típicas dessas ocasiões, mas também às permanências e às razões para que uma ruptura definitiva não ocorresse.
Nesse sentido, o tempo histórico não corresponde ao tempo cronológico. Fazer cronologia não é fazer História, ainda que uma linha do tempo possa vir a ser um pontapé inicial para o trabalho do historiador. As transformações históricas são lentas. Alguns exemplos citados pela autora: 1) os valores machistas; 2) a visão histórica eurocêntrica.
A História não é o desenrolar de um processo evolutivo linear. O desenrolar de cada sociedade é característico, único. Não se deve, portanto, associar a ideia de progresso à noção de processo histórico; nem se deve comparar o desenvolvimento técnico, moral, político e econômico de uma sociedade ao de outra. A humanidade não é um todo homogêneo, mas está condicionada por uma realidade concreta, no tempo e no espaço. O homem é um ser finito, temporal, histórico e que tem consciência sobre a sua historicidade.
A História não traz explicações para questões existenciais da humanidade. Seu objeto de estudo são os acontecimentos e o sentido dos mesmos. Ela não explica, portanto, a razão de ser do homem na Terra, mas como e os motivos por que se deram as transformações levadas a cabo pela humanidade. Além disso, fazer História é responder a indagações e problemas contemporâneos ao historiador. É por esse motivo que a História é constantemente revisitada e reescrita. A História é filha de seu tempo. O próprio fazer histórico é histórico.
Não se pode falar em uma História do futuro, mas o estudo da História pode ajudar a delinear ações futuras. O conhecimento do passado pode servir, portanto, tanto para manter tradições, quanto para promover mudanças na ordem política, econômica e social vigente.
Não é correto falar em "tempos históricos" como sendo aqueles posteriores ou concorrentes à invenção da escrita, ainda que a maior parte das fontes históricas seja escrita. Tempos anteriores à invenção da escrita, denominados genericamente como tempos "pré-históricos", também fazem parte da História humana.
As fontes históricas não são apenas os documentos oficiais ou textos que se referem ou que são de autoria de grandes nomes, de grandes personalidades, tais como reis, imperadores, generais, artistas, religiosos, etc. De acordo com Vavy Pacheco Borges, tudo o que se diz ou escreve, tudo quanto se produz e se fabrica pode ser um documento histórico.
Nesse contexto, cabe ressaltar que as fontes históricas não retratam fielmente a realidade, mas são apenas parte do objeto em estudo, por vezes refletindo pontos de vista particulares, subjetivos, do momento histórico em análise. É trabalho do historiador interpretar criticamente tais fontes, de modo a se aproximar, tanto quanto possível, da realidade passada. O próprio historiador deve estar consciente de que as suas convicções político-ideológicas podem influir no resultado final de seu trabalho.
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