A aula de hoje teve por base o prefácio e o primeiro capítulo do livro “Teorias do Jornalismo – Volume I” de Nelson Traquina.
O prefácio do livro traça um resumo histórico da disciplina Teorias do Jornalismo no Brasil e suas especificidades. Comentou-se a respeito das contribuições de Adelmo Genro Filho, em meados da década de 1970, em sua atuação como professor e pesquisador da disciplina no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Segundo Eduardo Meditsch, autor do préfacio, Genro Filho é considerado o fundador da disciplina no Brasil.
Também contribuíram para a institucionalização da disciplina em solo brasileiro na virada do século XX para o XXI, os professores Marques de Melo e Ciro Marcondes Filho, em São Paulo, e os professores Alberto Dines e Nilson Lage, no Rio de Janeiro. O antigo Provão (hoje Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE) foi decisivo nesse processo, ao exigir a matéria como obrigatória nos cursos de graduação.
A professora comentou sobre a desvalorização, em termos de salários, da carreira de jornalista (salários médios entre R$ 1400,00 e R$ 1600,00 para jornadas de trabalho de 5h), apontando a valorização crescente de outras áreas de atuação jornalística, como as assessorias de imprensa, as assessorias de comunicação e as agências de comunicação.
Comentou-se ainda sobre a necessidade de criação de um conselho nacional de jornalismo e sobre o fato de o ex-presidente Lula ter-se posicionado contra o mesmo. Uma pesquisa rápida na Internet revelou a existência da Federação Nacional dos Jornalistas1 (FENAJ) e da Associação Brasileira dos Jornalistas2 (ABJ), ambas sediadas em Brasília. O jornal Folha de São Paulo3, em 6 de agosto de 2004, noticiou o encaminhamento para o congresso, pelo ex-presidente Lula, de um projeto de lei que preveria a criação de um Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), cujos objetivos seriam "orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão e a atividade de jornalismo - inclusive com poderes de punir jornalistas." Grupos políticos e a própria imprensa opuseram-se à criação do conselho, por acreditarem que o mesmo seria uma ameaça à liberdade de imprensa.
A inserção da disciplina de Teorias de Jornalismo no currículo dos cursos de graduação em Comunicação Social com enfâse em Jornalismo responde à necessidade de se ensinar mais do que meras técnicas ou práticas de jornalismo a futuros profissionais do campo. O profissional possuindo um diploma de graduação em Jornalismo seria, portanto, capaz de refletir teoricamente sobre a própria prática jornalística, enquanto construção social - daí a importância da obrigatoriedade do diploma e da criação da Faculdade de Jornalismo aqui na UFG. Quanto à pós-graduação, as linhas de pesquisa de mestrado disponíveis na UFG abrangem as temáticas “Comunicação e Cultura” e “Comunicação e Cidadania”, não havendo ainda uma linha de pesquisa específica para o Jornalismo.
Na tentativa de responder à pergunta “O que é jornalismo?”, respostas como “realidade”, “notícia”, “informação” e “verdade” oferecem um vislumbre do tema. No primeiro capítulo de “Teorias do Jornalismo”, Traquina começa a discussão dizendo que o jornalismo seria a “vida” em última instância, ao fazer um recorte da realidade, narrando-a através da seleção de fatos (estórias). Aqui há uma diferença de ponto de vista entre Traquina e Nilson Lage (autor estudado em aulas anteriores). Traquina vê as notícias como narrativas da vida/realidade, enquanto Nilson Lage as vê como exposições ou documentações dos fatos da vida/realidade.
Traquina propõe-se a escrever um manual teórico - contrariando a acepção mais comum dos manuais, os quais pretendem ser, em sua essência, práticos. O jornalismo seria, assim, uma atividade intelectual por excelência, já que exigiria um esforço reflexivo considerável na tomada de decisões quanto à seleção dos fatos, recursos e fontes à disposição.
Neste primeiro capítulo de “Teorias do Jornalismo”, Traquina demonstra a estreita relação existente entre jornalismo e democracia. Segundo ele, sem democracia não há jornalismo - há propaganda (e não publicidade, pelo caráter ideológico da primeira). O exemplo mais próximo da realidade brasileira seria propaganda ideológica levada a cabo pela ditadura militar (1964 - 1985). Slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o” são exemplos dessa realidade de cerceamento da liberdade de imprensa.
Traquina sugere que o jornalismo seja tratado como um campo cujo objeto de estudo e produto de construção social são as notícias. Seguindo o conceito de campo de Bourdieu4, Traquina sugere que os pólos hegemônicos desse campo de forças seriam o pólo econômico e o pólo ideológico. Para o primeiro, as notícias seriam vistas como um negócio; para o segundo, como serviço público/social.
Sob a ação desse campo de forças, os jornalistas teriam, portanto, uma autonomia relativa. Os profissionais do campo estariam sujeitos às imposições da organização em que se inserem, do ritmo de trabalho, de seus superiores (editor, diretor, proprietário do meio de comunicação) e do conjunto de políticas de conduta da organização.
À pergunta “Por que as notícias são como são?”, Traquina propõe-se a respondê-la discorrendo sobre o processo histórico de formação do campo jornalístico, desde os primórdios ao surgimento das novas tecnologias e consequente informatização das redações, passando pela evolução dos interesses ideológicos que acompanharam esse processo. Nesse sentido, é importante que os jornalistas entendam o modelo de sociedade com o qual coexistem e a forma por meio da qual o jornalismo de sua época interage com o poder instituído, considerando tanto fatores externos (influência da escola americana ou europeia, por exemplo), quanto fatores internos (forma brasileira de se fazer jornalismo).
Assim, seria o jornalismo um “quarto poder”, isto é, um meio de fiscalização da atuação dos três poderes republicanos)? Seria o jornalismo um “contra-poder”, isto é, uma forma de embate ao poder instituído e seus eventuais desmandos)? Ou seria o jornalismo um “quarto do poder”, onde o poder instituído deitaria-se com os agentes da notícia, corrompendo-os e atraindo-os para perto de si, onde a atuação de seu campo de forças seria mais intensa e hegemônica?
O trabalho do jornalista contribui, portanto, de maneira determinante para a construção da realidade, bem como para a formação (e não apenas informação) do público/sociedade (leitor, ouvinte ou telespectador).
Referências
- http://www.fenaj.org.br/index.php
- http://www.abjornalistas.org
- http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u63040.shtml
- http://reflexoescienciashuma.blogspot.com.br/2010/04/o-conceito-de-campo-em-pierre-bourdieu.html
- "Teorias do Jornalismo - Volume I" (Nelson Traquina)
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